Encanta-me, Ano Novo!

Por Marisa Bueloni | 08/01/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Inaugurando a 4ª feira da crônica semanal, desejo começar com um pouco de poesia, pra alegrar o nosso coração e o coração do mundo. Para descobrir onde mora o encanto, a beleza, a doçura de cada coisa criada e que estão à nossa volta todos os dias.

Começo contando que um bando de loucos passou por aqui. Contaram-me, eu não vi. Dizem que cantavam canções de amor. E aos que passavam, davam uma flor. O mundo anda precisando desta bendita loucura que salva e cura, que canta e dança e aponta certeira para a esperança!

Posso contar um pouco de mim, neste texto inaugural? Bem, digo que nunca pintei o sete, nem fui do chifre furado. Não fui de farra, de festa, tive pouco namorado. Casei-me com um moço lindo que encontrei na faculdade. Ele foi e eu fiquei carregando esta saudade.

Vivo quieta no meu canto, na maior simplicidade. Num lugarzinho de sonho, buscando a felicidade. Aqui, faço verso, componho, tenho toda liberdade. Espírito de pobreza, despojamento e humildade. Tendo um prato de comida e pro frio um cobertor, uma roupa de ir à missa – que mais é preciso, Senhor?

Encanta-me, Ano Novo! Mostra uma face nova, um pouco de paz nas guerras, nas crianças pelas ruas, esmolando, os olhos fitos, chorando, nas tragédias que andam nuas.

Mas existe o momento da perplexidade, da indecisão e da fé. Algo precisa ser feito. Então, escrevo o que não me deixa mentir. Agora, agora que as asas se abriram, pra onde voar? Agora, agora que entendi o que é pecado, o que pecar? Agora, agora que falo com Deus, o que rezar? Agora, agora, que uso o que tenho vontade, o que usar? Agora, agora que o barco me espera, não quero embarcar. Agora, agora que o baile acabou eu quero dançar. Agora, agora que o sol se apagou, eu quero brilhar. Agora, agora que a vida adormece, eu quero acordar.

Já acordei de um sonho, algumas vezes. Mergulhada nele, pensara ter encontrado o amor. Um engano pode ser fatal, mas não para quem tem uma força leonina. Meu signo, Leão. Nada a ver, eu sei, mas vale citar.

No mais, vos direi: Ó, vida ingrata! Uns a fazem tão metódica. Outros se aventuram e se dividem na dízima periódica.  Ó, vida ingrata! Não seria mais fácil viver na conta exata? Um quociente único não seria mais bonito do que aqueles algarismos frios, em série, no infinito?…

Tem dias que bate a sensação de que chegou a hora. Mais ou menos assim. Não é nada, meu amor. Só um pouco de dor. Não é nada, um mau jeito e um aperto no peito. Não é nada, por favor, só um leve tremor. Não é nada, vai passar, quando eu for me deitar. Mas se o dia raiar e eu não acordar, seja lá como for, não foi nada, meu amor.

Quase sempre, digo que a vida é assim como fazer um sacrifício: carregar o esquecimento por ofício. Todos nós temos algo que desejamos esquecer, apagar da memória, do nosso passado, da nossa existência. Não dá. Mas é possível olhar para trás e sentir orgulho do bem que fizemos e da pessoa de caráter que somos, dos acertos e das pequenas vitórias.

Quanto ao Ano Novo, se não nos encantar, paciência. Teremos outros anos novos e um espumante para estourar, o brilho nos olhos, as esperanças acesas. Seja o que Deus quiser – já dizia meu pai.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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