Fabiano Porto

O papel das empresas na transição para um capitalismo mais consciente e sustentável

Por Fabiano Porto (@f_porto) – Jornalista e Cofundador do Instituto Regeneração Global |
| Tempo de leitura: 5 min

As empresas e indústrias representam os principais motores do capitalismo e dependem de estabilidade social e ambiental para seu pleno desenvolvimento, porém com os crescentes impactos humanos no meio ambiente, o agravamento das questões sociais e incapacidade do Poder Público em lidar com o complexo cenário atual, as empresas foram alçadas ao papel de protagonistas na transição para uma sociedade mais sustentável e regenerativa, sendo impelidas a agir de forma proativa para adaptar sua cultura empresarial, seus processos de produção, consumo, descarte e gestão de resíduos.

Definitivamente o clássico artigo de Milton Friedman de 1970 que falava que a função social das empresas era a maximização de lucros está ultrapassada para a realidade socioeconômica atual. Se as empresas e indústrias só pensarem na maximização do lucro, mantendo os modos de produção atuais, o colapso global será inevitável e não haverá futuro possível para o próprio desenvolvimento do capitalismo.  

 “Você conduzirá [essa transição] ou será conduzido?”, a pergunta provocativa é de Larry Fink, CEO da Black Rock, em sua mensagem anual ao mercado, onde são transmitidos os posicionamentos e prioridades da maior gestora de investimentos do mundo com US$ 10 trilhões em ativos e que seria a terceira maior economia do mundo, caso fosse um país. “Não se trata de política. Não é uma agenda social ou ideológica. É o capitalismo, conduzido por relacionamentos mutuamente benéficos entre você e os funcionários, clientes, fornecedores e comunidades nos quais sua empresa depende para prosperar. Esse é o poder do capitalismo”, ressalta Fink da Black Rock.

Prosperar. Essa é a regra de ouro da natureza e também dos negócios. A questão é que o sucesso empresarial não pode ser sinônimo de destruição do meio ambiente. É preciso aliar o desenvolvimento econômico à prosperidade socioambiental se quisermos evitar o colapso planetário que está sendo anunciado (e confirmado) há décadas. No artigo “Sustentabilidade ou morte: a humanidade entre a extinção e a regeneração” compartilhei mais informações sobre o cenário crítico atual e a necessidade de agir para evitar colapsos ambientais de grandes proporções.

Este movimento já está acontecendo, e uma das evidências é o crescimento dos “investimentos verdes”, “negócios de impacto” e da chamada “Agenda ESG” (em inglês, Meio Ambiente, Social e Governança), que tem se consolidado como principal indicador empresarial para conduzir essa transição de cultura e ações. Segundo dados da Black Rock, houve um deslocamento robusto de capital para os investimentos sustentáveis atingindo uma soma de US$ 4 trilhões em ativos no mundo. Já no brasil, os ativos sustentáveis associados a ESG somam R$ 85 bilhões, e podem chegar a R$ 500 bilhões nos próximos 5 anos, de acordo com dados compilados pela consultoria Sitawi. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) cerca de 48% dos investidores brasileiros já possuem ao menos uma métrica estabelecida para investimento em ESG.

Este crescente movimento que pressiona para a transição à modelos econômicos mais sustentáveis começa também a ser percebido no comportamento e decisões de CEOs e também dos funcionários, cada dia mais exigentes em relação a responsabilidade social e ambiental das empresas. A consultoria BSR conduziu estudo sobre empresas e mudanças climáticas com 4 mil empresas fornecedoras de todo o mundo e de diversos setores , e os resultados demostrou que 72% disseram que as mudanças climáticas apresentam riscos que podem afetar significativamente suas operações, receitas ou despesas. A manutenção da equipe também é afetada pela conduta empresarial em relação ao meio ambiente. A SHRM conduziu estudo que concluiu que 38% dos funcionários são mais propensos a serem leais a uma empresa que prioriza a sustentabilidade. O consumidores também estão atentos. De acordo com dados divulgados pela Forbes, 92% dos consumidores afirmam ser mais propensos a confiar em marcas que são ambientalmente ou socialmente conscientes. E 75% dos consumidores millenials, nascidos entre 1981 e 1995, estão dispostos a pagar mais em um produto se ele for ambientalmente sustentável, segundo relatório da Greenprint.

Empresas que adotam modelos mais sustentáveis obtêm melhores resultados a médio e longo prazo. Em pesquisa liderada por Robert Eccles, da Harvard University, com 180 empresas, ao longo de 18 anos, levando em conta diversos parâmetros financeiros, como patrimônio e valor de mercado, concluiu que as empresas de alta sustentabilidade superaram as suas adversárias no longo prazo, não apenas em relação ao mercado acionário, lucratividade, mas também no desempenho contábil e financeiro.

Diante de tantas evidências, os proprietários e acionistas já estão se dividindo em dois grupos: aqueles que negam e ignoram seu papel na construção de uma sociedade mais sustentáveis e responsável, e aqueles que já perceberam a oportunidade de crescimento, diferenciação e valorização da marca em agir de forma proativa para integrar o social e ambiental ao seu modelo de negócios.

A cada dia que passa, as ações empresariais pela sustentabilidade se tornam uma obrigação, e não mais uma diferencial. Não é possível comportar uma sociedade onde as empresas e indústrias não assuem suas responsabilidades perante o impacto de suas próprias produções e atividades no planeta. Seja por conveniência ou por visão e responsabilidade empresarial, as empresas deverão adaptar seus negócios para conquistar mercado, valorizar a reputação da marca e, claro evitar multas, os crescentes boicotes dos consumidores e evasão de seus talentos.

Portanto, existe uma gigantesca janela de oportunidade para empresas e indústrias proativas que agem enquanto as ações em sustentabilidade ainda são vistas como diferenciais para expandir seus negócios se tornando modelo e referência no mercado. A urgente e necessária transição para um “novo capitalismo”, seja “verde”, “consciente”, “sustentável” ou “regenerativo”, está em grande parte, nas mãos de pequenos e grandes líderes e empreendedores. Este é o “mundo ideal”, agora a realidade só saberemos nos próximos anos.

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