
O mesmo cacique Cunhambebe, que lançou uma maldição sobre Ubatuba em 1563 - na época em que a cidade era apenas a aldeia de Yperoig - abençoou Clodovil Hernandez. Ao menos era isso que acreditava o estilista. A crença no benfeitor, aliás, era tamanha, que o índio ganhou uma estátua, que fazia parte da decoração da mansão que Clodovil mantinha no município que tanto amava.
Ainda que não fosse de Ubatuba - o estilista era de Elisiário (SP) -, o local foi escolhido para ser seu paraíso particular. "Sua mansão estava entranhada em um dos mais belos cenários do país", contou a OVALE o jornalista Carlos Minuano, autor de "Tons de Clô", biografia de Clodovil, que acaba de chegar às livrarias, lançado pela BestSeller.
"Ele costurou como ninguém e teve uma extensa teia de polêmicas e controvérsias de grosso calibre. Em resumo, uma vida de contrastes, mas sempre transbordada de luxo, glamour e celebridades", disse Minuano.
Bastidores.
Pioneiro na moda do Brasil, polêmico apresentador de programas na TV e até
deputado federal, Clodovil teve uma vida intensa, marcada por grandes afetos e enormes brigas, muito luxo, glamour e sexo. E foi com esse personagem que Minuano topou em 2012, quando esteve em Ubatuba para fazer uma reportagem sobre o estilista.
"A sua mansão, na época, estava no centro de um processo judicial e ameaçada de ser demolida. Seus bens estavam todos sendo vendidos e tudo isso começou a chamar a minha atenção", afirmou o jornalista.
"Comentei com um amigo, Guilherme Fiúza (autor de "Meu Nome não é Jhonny", 2004), que comentou com o amigo dele, Carlos Andreazza, editor do grupo Record, que então me ligou e me convidou para fazer o livro".
A obra foi construída em cima de entrevistas com pessoas que conviveram com o estilista. E são inúmeras as histórias. Mesmo após a sua morte, em 2009, Clodovil continuou sendo alvo de fofocas e rumores. Até a suspeita de que foi assassinado ainda ronda a sua biografia.
"O circuito de afetos e desafetos de Clodovil é mais um desfile de celebridades, fontes essenciais na história do estilista. Adriane Galisteu e Luciana Gimenez, entre tantas outras, tiveram atritos com o estilista. Mas ele também foi querido de outros gigantes midiáticos, como Faustão e Silvio Santos. Ambos, porém, se recusaram a falar para esta biografia", revelou o jornalista na apresentação do livro.
bipolar.
Mas será que essa personalidade ácida e sincera ao extremo não era uma forma de autodefesa? "Tudo aponta que sim. E também para se fazer perceber", contou Minuano. "Mas essa 'casca', ao que parece, grudou de tal maneira, que era a mesma que ele usava eventualmente na intimidade, com pessoas próximas e queridas".
Fato é que por trás da fama, do dinheiro e do sucesso profissional, o estilista guardava algumas frustrações, como a descoberta de que era filho adotivo e a dificuldade que sempre teve com a sexualidade: não se casou e disse só ter tido um amor na vida, não concretizado.
"Mesmo com essa couraça de autodefesa, ele tinha uma espontaneidade e um bom humor que contagiava por onde passasse. Clodovil era muito verdadeiro e, embora tenha distribuído muitas bordoadas por toda a vida, também espalhou carinho, generosidade, amor e até ajuda para pessoas que mal conhecia", concluiu Minuano..