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Criador de Mafalda, Quino deixa grande legado de debate e contestação

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Mafalda, queimada, Tite e dilema das redes
Mafalda, queimada, Tite e dilema das redes

Contestadora, esperta e carismática. Indignada com as injustiças do mundo, falante, filosófica e sempre inconformada com tudo. Assim é a personagem Mafalda, famosa nas tirinhas de quadrinhos nos jornais, que surgiu em 1962, na Argentina, se tornando famosa -- e atual - até os dias atuais, inclusive no Brasil. Mesmo depois de quase 60 anos da criação, a menina continua totalmente contemporânea.

Nesta última semana, o famoso desenhista Joaquín Salvador Lavado, criador da personagem, morreu, aos 88 anos, após não resistir a um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Ele não teve filhos. Porém, é inegável a 'paternidade' dele com Mafalda. Nascido em Mendoza, faleceu na cidade natal na última quarta-feira, dia 30 de setembro, como o cartunista de língua espanhola mais famoso do mundo em todos os tempos. Tudo por conta daquela menininha contestadora.

O também desenhista argentino e grande amigo, Miguel Rep, definiu Quino esta semana como "um anjo nesta vida cheia de seres pesados".

Em tempos sombrios, de intolerância, a contestadora Mafalda é uma peça importante. Com humor, ela lida com as questões sérias da sociedade e em uma linguagem universal. O povo argentino, historicamente questionador, é personalizado nesta personagem, que ficou imortalizada. 'Quino', como era mais conhecido o criador de Mafalda, já não desenhava mais há alguns anos. Mas certamente deixou o seu legado.

A rebeldia da menina argentina de seis anos cativou muita gente. A personagem de Quino também é conhecida por ser fã da banda Beatles, que estava no auge do sucesso na década de 1960, quando a personagem foi criada.

Engajado contra as injustiça do mundo, antifascista e opositor ao regime militar da Argentina (1976-1983), Quino transferia seu engajamento e seus questionamentos para a personagem. Assim, se tornou um grande mestre do cartunismo, ultrapassando várias gerações.

Quando Mafalda completou 50 anos, em 2004, o desenhista se comparou a "um carpinteiro que fabrica um móvel, e Mafalda é um móvel que fez sucesso, lindo, mas para mim continua sendo um móvel".

"Quino, um dos maiores artistas da história do nosso país, nos deixou. Ele nos fez rir, nos fez pensar e sempre nos convidou a refletir sobre a Argentina, com a qual se comprometeu como poucos. Adeus, professor", disse o presidente argentino, Alberto Fernández, após a morte do desenhista.

COMPARAÇÃO.

Com muito sucesso, especialmente nos países da América Latina e também da Europa, a personagem de Quino foi por diversas vezes comparada a Charlie Brown, criação do norte-americano Charles Schulz, e famoso nos desenhos do Snoopy. E se ela teria sido inspirada nesse personagem, certamente também inspirou depois muitos outros autores pelo mundo.

Mafalda surgiu em 1962 para ser protagonista no jornal Clarín, um dos mais importantes da Argentina. Porém, com o trabalho rompido em seguida, ela só foi ganhar popularidade mesmo a partir de 1964, no jornal semanal Primera Plana. Depois, ressurgiu no diário El Mundo, em Buenos Aires.

A personagem sobreviveu com regularidade até 1973, quando Quino encerrou as publicações das tiras. Porém, Mafalda é tão popular, que ganhou até mesmo o nome de uma praça em Buenos Aires.

Com Mafalda, outros personagens se tornaram célebres nas tirinhas por conta dela: Manolito, Susanita, Guille, Felipe, Liberdade e Burocracia. E a personagem já é um ícone argentinos, como Carlos Gardel, Maradona ou Evita Perón.

Ah, em tempo, e antes que me esqueça: Mafalda odeia comer sopa!

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