
Logo depois que me graduei, em 1962, fui convidado pelo criador do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), o brigadeiro Casimiro Montenegro Filho (1904-2000), um homem visionário, para trabalhar no departamento de aeronaves. E foi um desses momentos que mudam a vida da gente. Reuni alguns colegas e nós, no CTA, nos reunimos para tentar ver quais seriam as chances de produzir um avião que pudesse ser lançado no mercado internacional.
O cenário era muito difícil.
Cheguei a ouvir de um colega da FAB (Força Aérea Brasileira) que "avião não era coisa que se fabricava, era coisa que se comprava".
Independente desse ambiente razoavelmente hostil, começamos a pensar que precisávamos pensar um avião que ficasse mais ou menos fora da concorrência.
Ele deveria ser um avião que outros não acreditassem que fosse viável para ser feito. Um avião diferente, que ninguém quisesse fazer. De menor porte, forte e que restabelecesse o tráfego aéreo nas pequenas cidades. Nesse momento, numa madrugada, recebi um telefonema do Neiva [José Carlos Neiva (1924- 2010), piloto de avião e industrial], que tinha uma fábrica em Botucatu, que depois a Embraer acabou comprando. Ele trazia junto com ele um francês, o Max Holste, que era fabricante de aviões na França.
E foi com essa sequência de pensamentos e uma série de eventos que começamos. Tivemos primeiro que convencer o brigadeiro a contratar o Max. Não tínhamos dinheiro. Conseguimos hangar no CTA e começamos a pensar num avião diferenciado.
Como prevíamos, os jatos começaram a crescer de tamanho e a ficar inadequados para as pequenas pistas. Foi aí que surgiu a ideia de fazer o avião que depois ganhou o nome de Bandeirante.
Começamos a reunir algumas pessoas e trabalhávamos inclusive de noite. O entusiasmo foi crescendo. No dia 22 de outubro de 1968, o avião voou. O espanto foi muito maior quando o avião pousou. Era um avião feito por malucos que decolava e pousava.n