
Phil Spector, um dos mais influentes e bem-sucedidos produtores musicais do rock'n'roll e do pop, responsável por uma série de sucessos no início dos anos 1960 e discos icônicos como "Let it be" e "Imagine", morreu no último sábado, 16, aos 81 anos.
A morte foi confirmada na tarde deste domingo, 17, por autoridades do Departamento de Correções e Reabilitação da Califórnia, onde ele cumpria pena por assassinato desde 2003, quando a modelo Lana Clarkson foi encontrada morta na casa do produtor.
Segundo sua filha, Nicole Audrey Spector, o produtor morreu por complicações da Covid-19. Ele recebeu o diagnóstico do novo coronavírus no fim de novembro na California Healthcare Facility, a prisão em que cumpria pena. Spector foi levado ao San Joaquin General Hospital no dia 31 de dezembro, e intubado no dia seguinte.
Wall of SoundSpector ficou conhecido pela abordagem wagneriana na música pop, com uma produção definida pelo tratamento instrumental luxuoso. O estilo foi batizado de Wall of Sound (muro de som), e moldou a indústria musical a partir dos anos 1960. Especialista em criar hits, ele colocou, entre 1960 e 1965, nada menos do que 24 álbuns no top 40 dos mais vendidos.
A canção "You’ve lost that lovin’ feeling", composta por ele, Barry Mann e Cynthia Well e conhecida principalmente na versão dos The Righteous Brothers, é a música mais tocada do século XX em rádio e TV, de acordo com a gravadora BMI.
Sua colaboração com os Beatles resultou no estrondoso sucesso do álbum "Let it be", entre outros. Ele também viria a trabalhar no "Imagine", de John Lennon. Outras de suas parcerias incluem artistas como Ronettes, Crystals, Ike & Tina Turner, Cher, Leonard Cohen e Ramones, antes de entrar em um período de inatividade a partir dos anos 1980, com alguns trabalhos ocasionais.
Produtor como protagonistaAo elaborar uma assinatura sonora imediatamente identificável, Spector criou sozinho o imaginário do produtor musical como autor, uma figura cuja força criativa iguala ou até supera a dos artistas.
Sua marca de assinatura era a Wall of Sound, uma onda sônica aperfeiçoada nos estúdios Gold Star em Los Angeles, onde trabalhou com o engenheiro Larry Levine, o arranjador Jack Nitzsche e um grupo de músicos apelidado de Wrecking Crew (equipe da demolição) por Hal Blaine, um de seus bateristas regulares. Com dezenas de músicos e cantores de apoio agrupados nos aposentos apertados do Gold Star, Spector superpôs várias camadas de guitarras, baixos e teclados e aplicou um brilho cintilante de cordas.
"Houve compositores-produtores antes dele, mas ninguém fez tudo como Phil", disse à Rolling Stone o compositor e produtor Jerry Leiber, que morreu em 2011 e com quem Spector fez um breve, mas crucial, aprendizado na Atlantic Records.
A técnica de Spector inspirou outros artistas na criação de álbuns fundamentais. Um dos maiores exemplos é o icônico "Pet sounds", dos Beachs Boys, que emulou o Wall of Sound com perfeição.
"Ele é eterno", disse sobre Spector o compositor Brian Wilson, líder dos Beach Boys e a mente por trás de "Pet sounds", em 1966. Outros que assumiram a influência do produtor foram Velvet Underground, Brian Eno, My Bloody Valentine e Bruce Springsteen, entre outros.
Carreira manchada por assassinato e denúnciasSua carreira de sucesso, porém, foi manchada pelo assassinato da modelo e atriz Lana Clarkson, que foi encontrada morta com um tiro na cabeça na casa de Spector, em 2003. Em 2009, o produtor foi condenado a 19 anos de prisão.
Clarkson trabalhava com recepcionista numa boate de Los Angeles e, após uma noite de bebedeira com Phil Spector, acompanhou o produtor até sua casa. A polícia de Los Angeles encontraria a mulher, então com 40 anos, morta numa cadeira da sala de estar, com um único ferimento de bala na cabeça.
Também em 2003, dois dos filhos adotados de Spector, Donté e Gary, denunciaram que o pai os manteve em cativeiro quando eram crianças e os forçava a praticar atos sexuais com uma de suas namoradas.
"Por anos, nós éramos apenas animais enjaulados e usados para a diversão do papai", disse Donté ao jornal inglês "Mail on Sunday".
Segunda mulher de Spector e mãe de Donté, Gary e Louis, Veronica Bennett já havia denunciado comportamentos violentos do músico em 1990, no livro "Be my baby: How I survived mascara, miniskirts and madness".
Segundo ela, que ficou conhecida como Ronnie Spector no grupo Ronettes (criado por Spector), o ex-marido a manteve em cativeiro e sabotou sua carreira a impedindo de fazer shows. Ela precisou fugir da mansão de Spector com a ajuda da mãe, em 1972. Depois do divórcio, em 1974, Bennett disse que Spector ameaçou contratar um matador de aluguel para assassiná-la.