OPINIÃO

Modus Operandi: a saída de Juscelino Filho do governo Lula

Por Fabrício Correia | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Jornalista
Reprodução
Lula e o ex-ministro
Lula e o ex-ministro

A saída de Juscelino Filho do Ministério das Comunicações, após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República, não encerra um ciclo de corrupção e influência, mas escancara o funcionamento da velha engrenagem política que se perpetua mesmo em governos que prometem romper com ela. No lugar de qualquer ruptura, assistimos mais uma vez à dança das cadeiras: deve entrarem Pedro Lucas Fernandes, líder do União Brasil na Câmara, como provável substituto, com bênção direta do presidente do Senado, Davi Alcolumbre — o verdadeiro maestro dos bastidores.

A cena é reveladora: durante um almoço político, Alcolumbre pega o telefone, liga diretamente para Lula e avisa sobre a renúncia do afilhado político Juscelino. Em um passe coordenado, indica o substituto. O presidente escuta, concorda, e ainda conversa com o ministro demissionário num gesto que mistura gratidão e conivência. Nada de indignação pública, nenhum sinal de ruptura com os vícios. O sistema se protege, recicla-se e segue.

Nos bastidores, o próprio União Brasil tentou um movimento de troca interna: cogitou transferir Celso Sabino, ministro do Turismo, para as Comunicações. Lula reagiu, dizendo que Sabino está bem onde está — não por questões programáticas ou de mérito técnico, mas porque sua permanência também garante outra frente de sustentação política. A lógica, como sempre, não é servir melhor ao país, mas equilibrar interesses partidários, distritos eleitorais e caciques regionais.

A permanência do União Brasil à frente do Ministério das Comunicações é menos uma escolha e mais uma rendição. O governo federal mantém acesa a chama de sua base aliada por meio da velha política do toma-lá-dá-cá, travestida de governabilidade. Pedro Lucas Fernandes, embora ainda não tenha sido formalizado, é o nome que agrada aos mesmos grupos que sustentaram Juscelino. Não se trata de mudança. Trata-se de continuidade.

O escândalo que derrubou Juscelino — o desvio de verbas para o município administrado por sua irmã — não é exceção, é regra. Uma engrenagem que não foi desmontada, apenas substituiu o parafuso. O problema não está só no nome, mas no sistema inteiro que permite que parlamentares usem emendas para irrigar redutos eleitorais com verbas públicas que depois retornam sob a forma de poder e votos.

É essa engrenagem que Lula, com décadas de vida pública, conhece como ninguém. E que, em vez de desmontar, optou por manter em funcionamento. Uma escolha que cobra seu preço ético e político. A demissão de Juscelino não é um ato de depuração, mas de manutenção. A comunicação muda de voz, mas segue sob o controle dos mesmos.

A sociedade brasileira não pode mais aceitar como normal que os ministérios sejam usados como moeda de troca partidária. A ideia de coalizão não deveria ser sinônimo de conivência com estruturas que priorizam os acordos sobre os princípios. A tão falada governabilidade tem servido, muitas vezes, para justificar o injustificável.

É hora de encerrar a politicagem. De superar a lógica das indicações baseadas em lealdades partidárias e não em competências técnicas. O Brasil merece uma administração que não use o dinheiro público para proteger redutos eleitorais nem ministérios como prêmios de consolação. Caso contrário, continuaremos a viver o presente com as práticas do passado — com novos nomes e as mesmas velhas histórias.

E nesse modus operandi, o país segue refém da política que promete mudança, mas sempre entrega mais do mesmo.

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