Em manifestação à Justiça, o Ministério Público defendeu a concessão de uma liminar para suspender o processo licitatório por meio a qual a Urbam (Urbanizadora Municipal) assinou contrato com a Green Energy S.A., de São Paulo, para a locação de 400 ônibus elétricos para o transporte público de São José dos Campos.
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No parecer, emitido nessa quinta-feira (13), a promotora Ana Cristina Ioriatti Chami afirma que "a bilionária previsão de despesas, em projeto que demanda responsabilidades futuras e ainda um tanto incertas também às contratantes, para mudanças na frota e forma de atendimento ao transporte urbano municipal, merece cautelas". Assinado no dia 7 de março, o contrato prevê que a empresa receberá R$ 2,718 bilhões ao longo dos 15 anos.
Também no parecer, a promotora ressalta que o contrato foi assinado na sexta tentativa de licitação feita pela Urbam, que é uma estatal controlada pela Prefeitura - e que, dessa vez, apenas uma empresa apresentou proposta. "O atual modelo pretendido pela administração sucede diversas outras tentativas frustradas de certame para o objeto (locação de ônibus elétricos), notórias as dificuldades inerentes ao quanto previsto e de interesse do município. E a existência de única participante reforça indícios de insuficiente planejamento e competição".
A promotora também afirmou que a defesa apresentada pela Prefeitura não foi suficiente para esclarecer todos os pontos contestados pela oposição no processo. "Ainda que a administração pública municipal tenha juntado vasta documentação e afirme ter levado a efeito os estudos necessários, verifica-se que muitos deles ainda contém evidentes conjecturas e previsões hipotéticas de adaptação da estrutura necessária às mudanças que se pretendem ver implementadas, gerando-se incertezas e riscos de lesão efetiva ao erário, submetido a intenções pioneiras sem suficiente respaldo e/ou planejamento".
Por fim, a promotora citou uma informação revelada por OVALE: que a Green Energy passou a prestar esse tipo de serviço pouco mais de um mês antes de apresentar proposta na licitação. "A recente constituição da empresa habilitada também demanda aprofundada análise de sua capacidade operacional, em resguardo ao erário e ao interesse público", conclui o parecer.
A reportagem questionou tanto a Prefeitura quanto a Urbam sobre o parecer do MP, mas nem o município e nem a estatal haviam se manifestado até a publicação do texto. O espaço segue aberto.
Processo.
A manifestação do MP foi apresentada na ação movida pelo vereador Lino Bispo (PL), que faz oposição ao governo Anderson Farias (PSD). No processo, o parlamentar pede a suspensão do processo licitatório com base em supostas irregularidades, como falta de concorrência, transferência de custos para a Prefeitura, desconsideração de estudo técnico contratado pelo próprio município e risco de aumento na tarifa.
Em fevereiro, a Prefeitura já apresentou defesa no processo, na qual negou qualquer irregularidade no processo licitatório.
Após receber a defesa da Prefeitura e a manifestação do MP, caberá à juíza Laís Helena de Carvalho Scamilla Jardim, da 2ª Vara da Fazenda Pública, definir se a contratação da empresa será ou não suspensa de forma liminar, enquanto o mérito do processo não é apreciado.
Licitação.
A ação foi proposta por Lino no dia 6 de fevereiro. Antes, no dia 10 de janeiro, na sexta tentativa de licitação da Urbam, apenas uma empresa havia apresentado proposta, a Green Energy.
O contrato foi assinado em 7 de março. A partir dessa data, a Green Energy terá seis meses para começar a disponibilizar os veículos. A entrega completa pode ser feita em até 18 meses.
A Prefeitura de São José dos Campos ainda terá que abrir uma segunda licitação, que irá definir a empresa que irá operar os ônibus e também ficará responsável pelo carregamento das baterias.
Impasse.
A novela da nova licitação do transporte público começou em janeiro de 2019, quando a Prefeitura pagou R$ 2,4 milhões para a FGV (Fundação Getúlio Vargas) elaborar o novo modelo de concessão. Seria um contrato tradicional, em que seriam escolhidas as empresas que operariam os ônibus, em dois lotes. Editais foram lançados em 2020 e 2021, mas não houve interesse do mercado no modelo proposto. Apenas o Grupo Itapemirim participou, mas o contrato não foi adiante pois a empresa não comprovou que seria capaz de entregar o que era exigido.
Em março de 2022, inspirada em proposta do governo de Goiás, a Prefeitura passou a apostar em um novo modelo, que consiste em alugar os ônibus por meio de uma estatal – a Urbam, no caso - e contratar outra empresa para operá-los, em outra licitação, feita pela Secretaria de Mobilidade Urbana.
Os cinco primeiros editais lançados pela Urbam fracassaram. Três deles chegaram a atrair uma empresa cada, mas todas acabaram desclassificadas. As outras tentativas foram barradas pela Justiça e pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) – entre falhas apontadas pelo TCE estão que o modelo que envolve a Urbam não foi discutido em audiências públicas (isso só foi feito com o modelo da FGV) e que a Prefeitura não comprovou a viabilidade econômica desse novo modelo.
Contratos.
Devido aos fracassos nas licitações, a Prefeitura tem feito sucessivas prorrogações nos atuais contratos. Firmados em abril de 2008, os contratos com a Joseense e a Expresso Maringá deveriam ter sido encerrados em abril de 2020, mas já sofreram cinco prorrogações: para fevereiro de 2021, outubro de 2022, outubro de 2023, outubro de 2024 e outubro de 2026.
Já o contrato com a Saens Peña, firmado em outubro de 2010 e que deveria ter sido encerrado em fevereiro de 2021, foi prorrogado quatro vezes: para outubro de 2022, outubro de 2023, outubro de 2024 e outubro de 2026.
Caso o novo sistema esteja pronto para entrar em operação antes de outubro de 2026, os contratos atuais terão a rescisão antecipada.
Comentários
2 Comentários
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Pedro de Lima 14/03/2025Isto é uma vergonha. -
Jorge Luiz dos Reis 14/03/2025Sinceramente não entendo um gasto desse numa cidade que está fechando no vermelho , basta pagar a dívida com IPMSJC