Uma operação de fiscalização resgatou 163 trabalhadores chineses em condições análogas à escravidão na construção da fábrica da montadora Build Your Dreams (BYD), em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador. A ação resultou na interdição de alojamentos e partes do canteiro de obras.
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Os operários, contratados por uma empresa terceirizada, estavam distribuídos em quatro alojamentos insalubres. As condições encontradas incluíam camas sem colchões ou com revestimentos inadequados, ausência de armários, itens pessoais misturados a alimentos e banheiros insuficientes — um deles atendia 31 trabalhadores.
Além da precariedade dos alojamentos, os trabalhadores relataram jornadas de 10 horas diárias, folgas irregulares e restrições severas, como retenção de passaportes e salários. A empresa retinha 60% do pagamento e devolvia apenas 40% em moeda chinesa, configurando indícios de trabalho forçado.
Infraestrutura precária
As áreas de alimentação estavam em condições inadequadas, com refeições servidas em refeitórios improvisados ou nas próprias camas. Água era consumida diretamente da torneira, sem tratamento. No canteiro de obras, banheiros químicos eram insuficientes e insalubres, e os trabalhadores estavam expostos ao sol sem proteção adequada.
Acidentes recorrentes foram registrados, incluindo casos graves de lesões oculares e amputações. Um operário relatou que sofreu um acidente devido à privação de sono causada pelas condições de trabalho.
Embargos e audiências
Os alojamentos e as atividades da obra permanecerão interditados até que sejam regularizados junto aos órgãos competentes. Uma audiência está marcada para o próximo dia 26, quando BYD e a empresa terceirizada deverão apresentar medidas para resolver as irregularidades.
A força-tarefa responsável pela operação é composta pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Polícia Federal, Ministério Público Federal (MPF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Defensoria Pública da União (DPU).
O caso segue em investigação, e novas fiscalizações não estão descartadas. BYD não se pronunciou até o momento sobre as acusações.