HISTÓRIA E ARTE

‘Louca’, prostituta e genial: a joseense que se tornou artista vivendo em um manicômio

Por Da redação | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 2 min
Reprodução/Instituto Moreira Salles
Nascida em 1896 em São José dos Campos, Aurora viu-se obrigada a um casamento relâmpago aos caprichos do pai
Nascida em 1896 em São José dos Campos, Aurora viu-se obrigada a um casamento relâmpago aos caprichos do pai

Aurora Cursino dos Santos, apesar de ser uma artista plástica prolífica, não recebeu reconhecimento de seus colegas. Com mais de 200 quadros produzidos nos anos 40, e um estilo próprio, enfrentou dois estigmas incontornáveis: ser prostituta e portadora de transtornos psiquiátricos.

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Sua obra, marcada por diagnósticos como "psicose paranoide", "personalidade psicopática amoral", "esquizofrenia parafrênica" e "autismo intenso", foi produzida exclusivamente nas dependências de um manicômio, apurou reportagem da BBC.

Nos seus quadros, destacam-se as cores vibrantes, caracterizadas por uma fusão de texto e imagem. A caligrafia densa da joseense, em letras maiúsculas, envolve figuras humanas, sobrecarregando-as com frases eloquentes.

Em outros trabalhos, memórias pessoais se entrelaçam com delírios persecutórios, formando uma rede de referências que abrange desde escritores renomados como Anatole France, Émile Zola e Alexandre Herculano, até compositores como Ludwig van Beethoven e Frédéric Chopin. Além disso, sua obra incorpora figuras históricas como reis, papas e imperadores europeus, assim como delegados e políticos brasileiros.

Em meio a tudo isso, a artista faz menção a São José dos Campos, atestando o caráter autobiográfico das obras.

À BBC, Silvana Jeha, doutora em História, e Joel Birman, professor titular do Instituto de Psicologia, destacaram que a sociedade coloca prostitutas e criminosos na mesma categoria, e que o caso de Aurora representa um martírio compartilhado por vítimas do sistema judiciário, em que suas vidas são definidas por registros clínicos e policiais com interpretações supostamente crítico-negativas.

HISTÓRIA
Nascida em 1896 em São José dos Campos, Aurora viu-se obrigada a um casamento relâmpago aos caprichos do pai. Insatisfeita, separou-se em menos de 24h.

Entre 1910 e 1930, prostituindo-se em São Paulo e Rio de Janeiro, financiou uma viagem à Europa. Apaixonada por literatura, artes plásticas e música, indícios sugerem que também tocava piano.

Na Lapa, conviveu com figuras como Madame Satã e Manuel Bandeira. Em 1919, denunciou um agressor após um episódio violento, mas o caso foi arquivado devido às leis discriminatórias da época.

Desencantada, afastou-se da boemia e, em São Paulo, dedicou-se à enfermagem durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Entretanto, dificuldades a levaram aos manicômios.

Internada em 1941, no Hospital Psiquiátrico de Perdizes, e depois no Complexo Hospitalar do Juquery, ela participou de um ateliê de arteterapia com o psiquiatra Osório Cesar por uma década, expressando seus tormentos pelas pinturas a óleo.

Em 1950, a obra de Aurora foi exibida pela primeira, quando Osório levou alguns de seus trabalhos para a Exposição Internacional de Arte Psicopatológica, na França.

MORTE
Em 1955, Aurora foi submetida à lobotomia. Ela faleceu em 30 de outubro de 1959, aos 63 anos, sem nunca ter saído do Juquery. Antes de ser lobotomizada, enfrentou choques elétricos e injeções medicamentosas, que resultavam em estados de coma e crises convulsivas.

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