TECNOLOGIA

‘Guerra no futuro será cibernética’, diz Patrick Burnett, presidente do Lide Inovação

Burnett diz que São José e Campinas são referência em tecnologia para empresas

Por Xandu Alves | 15/02/2024 | Tempo de leitura: 8 min
São José dos Campos

Divulgação

Patrick Burnett é fundador e CEO do InoveBanco e presidente do Lide Inovação
Patrick Burnett é fundador e CEO do InoveBanco e presidente do Lide Inovação

Planejamento financeiro e segurança digital são temas fundamentais para as empresas hoje e no futuro próximo, das pequenas até as multinacionais.

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A razão é que as guerras serão cada vez mais cibernéticas e ataques digitais podem atingir qualquer empresa ou até mesmo as pessoas físicas.

Fundador e CEO do InoveBanco e presidente do Lide Inovação, Patrick Burnett fala, em entrevista exclusiva a OVALE, sobre a importância desses temas para as empresas e também sobre dinheiro digital, déficit de trabalhadores em tecnologia, papel de São José e Campinas no desenvolvimento tecnológico e os desafios para fazer os brasileiros pouparem dinheiro.

Qual o papel da área de finanças nessa agenda de transformação tecnológica?

A parte das finanças, a segurança financeira, tem um papel e vai ter pelos próximos anos um papel extremamente importante nessa questão tecnológica. O mundo está cada vez mais conectado, as pessoas que estão cada vez mais conectadas. Então nós temos a questão da mobilidade, da praticidade, onde as pessoas querem resolver suas vidas ali na palma da mão, através do telefone celular.

Então, a questão da segurança, ela é muito importante. Geralmente quando temos problema de fraude ou tentativa de fraude sempre tem a questão do usuário envolvido, por uma brecha, um clique em um documento ou um anexo malicioso. Enfim, mas a parte financeira ela vai ter cada vez mais importância.

Tem alguma novidade tecnológica surgindo nesse mercado financeiro?

Nós tivemos uma transformação nesse nosso mercado extremamente significativa que foi o surgimento do Pix. O Banco Central está caminhando a passos largos para nós termos a criação de uma moeda digital própria, que é o Drex, que já está em fase de testes. Então, isso tudo o que compõe a nossa estrutura financeira, seja de pessoas físicas ou de pessoas jurídicas, ela atrelada diretamente a essa questão tecnológica.

Acho que, cada vez mais, a gente vai ter um papel extremamente importante das finanças e segurança, com avanços tecnológicos na vida de todos os brasileiros, de pessoas físicas e das próprias empresas, que vão ter um papel muito relevante nos próximos anos.

As guerras do futuro serão todas cibernéticas, atacando sistemas financeiros? A segurança vai ter que se desenvolver cada vez mais?

Esse é um discurso que eu tenho pregado bastante nas palestras e nos próprios eventos do Lide, a necessidade de investimento das empresas, independente do tamanho, na segurança cibernética.

Temos casos públicos de grandes empresas que tiveram a sua base de dados sequestrada, por invasores e a empresa simplesmente ficou inoperante. Além do prejuízo financeiro, o prejuízo de imagem é gigantesco e o prejuízo jurídico também, por conta de pagamento de dados, sigilo de informações. Recentemente, um grande laboratório ficou três dias fora do ar.

Então, eu tenho defendido bastante esse discurso de que o investimento em segurança, guardada as proporções, é muito parecido com a questão de seguro e plano de saúde. A maioria tem um seguro, seja de carro ou residência, um plano de saúde particular, que nós pagamos e nunca esperando usar. O investimento na segurança ele tem esse paralelo.

As empresas – pequenas, médias ou grandes – têm que olhar a necessidade real desse investimento em segurança cibernética, na prevenção de ataques e no monitoramento 24 horas por dia, sete dias por semana, de todos os sistemas, para aumentar cada vez mais a segurança dos usuários, de colaboradores dessas empresas que acessam informações sensíveis e possam dar uma brecha para um invasor.

Geralmente as invasões acontecem através de uma credencial de um funcionário daquela determinada empresa. Os ataques ocorrem o dia inteiro, o tempo todo, não só nas empresas financeiras, sejam os bancos tradicionais ou os bancos digitais. Esse é um risco generalizado de mercado, independente do segmento de atuação no Brasil.

Tem muita gente no país que ainda desconfia de cartões, dos bancos digitais e de usar a internet para pagar contas, por exemplo. Como o Banco Central está trabalhando numa moeda digital, você acha que isso deve demorar quanto tempo para pegar no Brasil?

Essa é uma tendência, mas uma tendência que eu enxergo para os grandes centros. Temos alguns fatores, principalmente barreiras culturais e tecnológicas. E também tem as barreiras de idade.

Há um número de usuários que são abertos, que fazem praticamente 100% de forma digital, mas a maior parte da terceira idade ainda não tem familiaridade para fazer sozinho algum tipo de transação, então geralmente eles precisam do auxílio de um filho ou de um parente mais próximo que tenha mais familiaridade. A barreira pela questão da idade é o primeiro ponto. A barreira tecnológica, que a gente chama de segunda, é fora dos grandes centros, principalmente a gente avançando para o interior.

Quase que 70% da volumetria financeira ainda é feita em dinheiro, em papel. Então, tem a questão cultural e temos também a questão estrutural, porque avançando pelo interior do Brasil não temos uma infraestrutura boa de internet, o que está diretamente ligado à questão do uso de smartphone ou de computadores.

A gente tem que caminhar uma estrada muito longa ainda para nós padronizarmos, por exemplo, o sinal que temos num grande centro, por exemplo, como São Paulo, e pegar o interior de uma cidade do Nordeste. Então, é muito discrepante ainda. A gente vai ter que investir nessa infraestrutura de telecomunicação em nível nacional, principalmente no interior, para a gente poder ter realmente um país digital.

Nesse sentido, também tem um esforço muito conjunto do poder público mais do privado em querer fazer acontecer. Então, essa é uma das grandes barreiras para nós termos um avanço mais significativo nesse sentido.

Qual a importância de Campinas e São José dos Campos com relação á tecnologia?

Campinas e São José hoje são as duas cidades na parte tecnológica, não só na questão financeira, mas na questão tecnológica em geral, com grandes empresas de tecnologia, sejam elas de software, grandes produtores e fabricantes de equipamentos. Se a gente pegar a região de São José, há o setor de aviação que se torna referência.

As cidades têm desde a educação básica chegando até as universidades, voltadas para essa formação, olhando para o sentido de serem polos tecnológicos, onde tem presença de grandes empresas multinacionais que são referências no mundo, que estão instaladas nessas duas regiões, além da infraestrutura das próprias cidades, de acesso e logística.

Tudo isso contribui para que elas sejam referência, assim como Recife, que é um grande polo, Florianópolis também. Então, geralmente temos somando Campinas, São José, Florianópolis, Recife e mais duas ou três cidades que hoje são referência nesta parte de tecnologia. Então, ambas tem um papel extremamente importante no desenvolvimento da nossa indústria tecnológica nacional.

Esse mercado vai demandar muitos profissionais. Qual é o perfil desse profissional? Há déficit no mercado?

Esse é um dado que tenho batido muito nos nossos eventos e andado muito preocupado. O último estudo do próprio Google que saiu no Brasil aponta que, nos próximos cinco anos, vamos ter um déficit de 750 mil vagas na área de tecnologia. É muita gente, porque nós temos a demanda, mas não vamos ter profissionais qualificados. Então, vai ter uma situação extremamente preocupante no mercado por falta de mão de obra desses profissionais.

Para a gente tentar minimizar esse impacto dos próximos anos, a gente tem que tomar uma decisão muito sensível e estabelecer parcerias sólidas entre o setor público e o privado, para criarmos centros de formação de jovens. Isso falando desde a base da pirâmide da educação.

Porque, além desse déficit, outro problema que enfrentamos é o assédio de empresas internacionais com a mão de obra tecnológica brasileira, que é uma das melhores do mundo. As empresas internacionais assediam essa nossa mão de obra. Então, fica muito difícil para as empresas nacionais competirem nesse sentido, para evitar essa invasão.

Nós temos que tomar medidas rápidas, primeiro para minimizar esse déficit para os próximos anos e, segundo, para também retermos esses talentos que temos aqui hoje, que constantemente, diariamente, as empresas estão perdendo para empresas multinacionais.

Pesquisa Datafolha mostra que 67% dos brasileiros não tem qualquer dinheiro guardado. Como vê esse resultado?

Isso está muito atrelado diretamente à questão econômica. O brasileiro nunca foi um poupado. É muito difícil empreender no Brasil, só que a questão do poupar eu acho que está muito mais atrelada à situação econômica que realmente não sobra dinheiro para a maior parte dos brasileiros fazerem a poupança, mas também é muito pelo desconhecimento do mercado financeiro. Nesse sentido, temos uma pequena parcela da população que investe para fazer uma reserva de dinheiro.

Na situação econômica que estamos, pelo contrário, a poupança dá até rendimento negativo, então também temos que trabalhar essa cultura de ensinar o brasileiro a investir melhor, seja de empresa de capital aberto, como Bolsa de Valores através de corretoras, bancos.

Tem a questão da informalidade também. Autônomos realmente pela dificuldade orçamentária, na maior parte dos casos, não acaba sobrando aquele dinheirinho para a maior parte desses brasileiros ter uma reserva.

Mas acho que isso também é uma questão cultural de nós investirmos numa educação financeira de base. Realmente é ensinar desde a idade escolar caminhando para a fase adulta essa parte da educação financeira, da importância de como investir, de guardar dinheiro ou de empreender.

Temos que melhorar ainda, na minha visão, essa parte cultural desde a base para caminhar para o dia de hoje e fazer com que o brasileiro entenda que investir e poupar a gente tem diversos caminhos melhores e mais viáveis do que a própria caderneta de poupança.

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