MENSAGENS

Piloto de helicóptero diz a heliponto de Ilhabela que não consegue subir na serra; OUÇA

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução
Piloto após a decolagem do helicóptero que desapareceu no Vale
Piloto após a decolagem do helicóptero que desapareceu no Vale

Ligações de telefone entre o heliponto de Ilhabela e o piloto do helicóptero modelo Robinson R44 que desapareceu no Vale do Paraíba, no domingo (31), revelam que a aeronave tinha dificuldade em subir acima das nuvens e encontrar um ‘caminho’ mais fácil para o arquipélago. Os áudios foram obtidos por OVALE.

Faça parte do canal de OVALE no WhatsApp e receba as principais notícias da região! Acesse: https://whatsapp.com/channel/0029VaDQJAL4tRs1UpjkOI1l

A aeronave viajava de São Paulo para Ilhabela com o piloto Cassiano Tete Teodoro e três passageiros – Letícia Ayumi Rodzewics, 20 anos, Luciana Rodzewics, 45 anos, que são mãe e filha, e o amigo Raphael Torres, 41 anos. Todos estão desaparecidos desde 15h de domingo, quando foi feito o último contato.

Segundo Jorge Maroum, piloto e proprietário do Heliponto Maroum, em Ilhabela, o primeiro contato de Cassiano foi às 11h09, quando pediu as condições do tempo. A resposta foi dada às 11h145. Às 13h03, o piloto do helicóptero enviou áudio dizendo que estava vindo para o Litoral Norte. Ele decolou do Campo de Marte, em São Paulo.

Como atrasou o voo, Maroum ligou para Cassiano às 14h42 e ouviu dele que a aeronave estava com dificuldades para cruzar a Serra do Mar.

“Liguei novamente às 14h49. Ele perguntou se eu tinha gasolina [de aviação] e disse que somente em Ubatuba. Falei para ele vir por cima da camada que o tempo aqui em Ilhabela estava bom, com muitos buracos e que a camada era muito fina e o sol estava transpassando por ela”, contou Maroum.

Em nova ligação às 14h55, o piloto disse que viria por cima da camada e desligou em seguida. A partir das 15h13, ele não atendeu mais as ligações de Maroum. “Fiquei chamando no VHF na frequência do corredor litoral por aproximadamente uma hora, mas sem resposta”, afirmou.


Veja a conversa entre o piloto Cassiano e Maroum:


Cassiano: Não estou conseguindo cruzar.

Maroum: Cancelou?

Cassiano: Tô na Fazendinha, mas não consigo cruzar, está tudo fechado, tá colado.

Maroum: Puxa vida, deixa eu ver se tem algum buraco aqui.

Maroum: (depois de alguns minutos) Tem um buraco aqui em cima do heliponto, vem por cima.

Cassiano: Fala mais alto.

Maroum: Tem um buraco aqui em cima do heliponto.

Cassiano: Tá bão, tá bão.

Na outra ligação, o piloto diz que não vai conseguir subir:

Cassiano: Está colado aqui e não vai dar certo.

Maroum: Vem por cima, tem um buraco aqui.

Cassiano: Aqui onde estou não tem condição de subir, não dá para subir, está tudo colado.  Não consigo ir por cima da camada.

Maroum: Acha um buraco e você sobe e vem para cá, tem um buraco aqui.

Cassiano: Tá bom, já, já eu vou.

Na última ligação, o piloto diz que vai tentar subir.

Cassiano: Jorge, vou tentar ir por cima.

Maroum: Você viu a imagem que mandei?

No linguajar da aviação, o termo ‘buraco’ é um espaço de céu limpo, com poucas ou sem nuvens, com a visibilidade boa. Já o termo ‘colado’ significa uma visibilidade prejudicada pelo mau tempo.

SERRA

Segundo Maroum, a imagem que ele enviou ao piloto do helicóptero foi a do céu azul em Ilhabela, com poucas nuvens, tirada às 14h40 de domingo.

OVALE apurou que as aeronaves monomotoras costumam cruzar a Serra do Mar no ponto mais baixo da montanha, chamado de Fazendinha (Fazenda Serramar), cuja altitude é de 3.200 pés – menos de um quilômetro. Nesse ponto, as aeronaves costumam cruzar entre a serra e as nuvens.

“Creio que ele estava numa situação difícil, cercado de nuvens, como num labirinto. Ele não estava conseguindo subir acima das nuvens, onde a condição estava boa. Se chegasse a 5.000 pés, o tempo estava maravilhoso”, disse Maroum.

BUSCAS

Quinze tripulantes especializados da FAB (Força Aérea Brasileira) trabalham nesta terça-feira (2) nas buscas pelo helicóptero que desapareceu na região.

A operação de busca é feita pelo 2º/10º GAV (Segundo Esquadrão do Décimo Grupo de Aviação - Esquadrão Pelicano), em um avião SC-105 Amazonas. Segundo a FAB, a aeronave cumpriu até a tarde desta terça-feira 15 horas de voo.

“Responsável por realizar a ação de busca e salvamento de aeronaves e embarcações desaparecidas em todo território nacional, o esquadrão atua, nesta missão, com a aeronave SC-105 Amazonas. A bordo, estão 15 tripulantes especializados”, informou a FAB.

O SC-105 Amazonas possui um radar capaz de realizar buscas sobre terra ou mar, com alcance de até 360 quilômetros. Um sistema de comunicação via satélite também permite o contato com outras aeronaves ou centros de coordenação de salvamento (Salvaero), mesmo em voos a baixa altura.

A aeronave ainda conta com um sistema eletro-óptico de busca por imagem e por espectro infravermelho. Isso permite realizar buscas pelo calor, detectando, por exemplo, uma aeronave encoberta pela vegetação ou uma pessoa no mar.

Leia mais:

VÍDEO: FAB usa 15 militares especializados em buscas para encontrar helicóptero no Vale

Mãe e filha estão entre ocupantes de helicóptero que desapareceu a caminho de Ilhabela

Comentários

Comentários