FACES DA CRISE

‘Só queremos nossos empregos de volta’: o drama da ‘demissão em massa’ na GM de S. José

Surpreendidos com os cortes, funcionários demitidos em São José dos Campos lutam para se reerguer e seguir em frente

Por Lara Salles | 24/10/2023 | Tempo de leitura: 4 min
São José dos Campos

OVALE/Arquivo

GM tem cerca de 4 mil trabalhadores, sendo que 1,2 mil estão em layoff
GM tem cerca de 4 mil trabalhadores, sendo que 1,2 mil estão em layoff

A montadora General Motors, que atua há 64 anos em São José dos Campos, passa desde a década de 1980 por crises envolvendo demissões em massa e longas greves. No sábado (21) a empresa se envolveu novamente em mais uma polêmica após demitir trabalhadores de São José dos Campos, São Caetano do Sul e Mogi das Cruzes. Surpreendidos com as demissões informadas por telegrama e e-mail, os ex-funcionários falaram ao OVALE sobre a luta para se reerguer e a esperança de serem recontratados.

A GM possui cerca de 4 mil trabalhadores, sendo que 1,2 mil estão em layoff (período de inatividade). Até agora a empresa não informou quantos funcionários foram demitidos, mas segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, existe confirmação de que entre eles estão mulheres grávidas e pessoas com problemas de saúde.

Pamela Alves, de 36 anos, e o marido, Nelson Martins, de 38 anos, são moradores de São José dos Campos e ex-funcionários da empresa, os dois contam que receberam o e-mail comunicando o desligamento no mesmo dia. Pais de uma bebê de apenas um ano, eles comentam sobre os desafios que têm enfrentado para seguir em frente.

"Como o pessoal já estava recebendo os comunicados no sábado de manhã pedindo para retornar para empresa ou não, esperávamos receber algo também, mas não passou pela nossa cabeça que os dois poderiam ser demitidos. Quando fui para fábrica deixei um emprego que estava há seis anos para buscar uma melhor qualidade de vida e agora estamos sem chão, com contas para pagar e uma criança para sustentar”, disse Pamela, acrescentando que além do salário ser fundamental para o sustento da filha, o casal comprou uma casa própria e corre o risco de perdê-la caso não consiga arcar com o financiamento do imóvel.

"Estamos revendo todas as nossas contas e separando o que é prioridade, que no caso é a nossa casa, porque não podemos deixar nossa filha sem ter onde morar. Só queremos os nossos empregos e dos nossos amigos de volta, está sendo difícil para todo mundo e não temos mais o que fazer", falou.

Outra funcionária que também foi demitida no sábado, mas que preferiu não se identificar, conta que apenas no setor em que ela trabalhava cerca de 40 funcionários foram cortados. “Foi uma surpresa muito grande para todos nós. Só pelo que eu sei 80% das pessoas que trabalhavam na mesma linha de produção foram demitidas. A situação está muito complicada, apesar de não ter filhos, tenho contas para pagar. Meu salário ajudava a arcar com os custos da faculdade do meu marido e com outras despesas de casa”, lamentou.

Outro ex-funcionário que também preferiu não se identificar e que trabalhou na empresa por quase 13 anos, diz que o sentimento é de revolta e de desespero. "Tenho 42 anos, sou casado e tenho dois filhos. Depois da demissão o que passa em nossas cabeças são pensamentos de como vamos fazer para quitar as contas e um sentimento de revolta, porque sempre trabalhei corretamente, nunca deixei de fazer meu trabalho e não esperava por isso. Agora o que podemos fazer é ir pra luta e tentar reverter essa situação", comentou.

GREVE E REIVINDICAÇÕES

Na segunda-feira (23), os metalúrgicos da General Motors de São José dos Campos entraram em greve por tempo indeterminado. De acordo com o sindicato, a condição para a volta ao trabalho é o cancelamento de todas as demissões que foram comunicadas no sábado. Os trabalhadores também exigem estabilidade no emprego e manutenção dos postos de trabalho. Além dos metalúrgicos de São José dos Campos, a greve também foi aprovada nas unidades da GM em Mogi das Cruzes e São Caetano do Sul.

"Em São José dos Campos, a GM tem um acordo de layoff firmado em junho com o Sindicato, que garante estabilidade no emprego para todos da fábrica, até maio de 2024. O acordo, portanto, foi quebrado e as demissões foram feitas sem qualquer negociação prévia com o sindicato, contrariando legislação que exige essa medida em caso de cortes em massa", disse a nota enviada pelo sindicato.

POSICIONAMENTO DA EMPRESA

Sobre o assunto, a GM reiterou que a queda nas vendas e nas exportações levaram às demissões nas fábricas das três cidades.

"Esta medida foi tomada após várias tentativas atendendo as necessidades de cada fábrica como, layoff, férias coletivas, days off e proposta de um programa de desligamento voluntário. Entendemos o impacto que esta decisão pode provocar na vida das pessoas, mas a adequação é necessária e permitirá que a companhia mantenha a agilidade de suas operações, garantindo a sustentabilidade para o futuro", informou.


OVALE entrou em contato novamente com a empresa nesta terça-feira (24), para informar sobre o número total de funcionários que foram demitidos e o que será feito pela GM para que a situação seja resolvida o mais rápido possível, porém, até a publicação desta reportagem não teve retorno.

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2 COMENTÁRIOS

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  • IRO CORDEIRO DE AZEVEDO FILHO
    29/10/2023
    Até entendo a tristeza deles... Mais os que não foram demitidos tem que trabalhar também, eles também tem famílias pra sustentar.. foi mandado embora paciência corra atrás de outro trabalho. O que não pode é vocês querer prejudicar quem não foi.. muitos pais de família que não foram demitidos, vão perder duas de trabalho, por conta dessa greve... E o sindicato é só para os demitidos ??
  • Marcos
    28/10/2023
    Acho que e muito frescura esses funcionários fica ficarem nesse xoxoro . A vida e assim outros choram e outros sorriem E direito da empresa mandarem embora Empresa não é instituição de caridade.