HISTÓRIA

Ecos de 2013: os dez anos dos protestos que marcaram a história recente do Brasil

As chamadas jornadas de junho 2013 foram a maior manifestação popular desde a redemocratização e abriram uma década marcada por rupturas

Por Débora Brito | 19/06/2023 | Tempo de leitura: 3 min
São José dos Campos

Fábio Pozzebom / Agência Brasil

Movimento abraçou diferentes demandas e se espalhou por todo o país
Movimento abraçou diferentes demandas e se espalhou por todo o país

Foram os centavos mais caros da história recente brasileira. No dia 6 junho de 2013, há pouco mais de uma década, o  MPL (Movimento Passe Livre)  iniciou no centro de São Paulo uma mobilização histórica contra o aumento de R$ 0,20 no valor das passagens de ônibus e metrô da capital.

Um ato aparentemente pequeno virou o estopim para acontecimentos mais gerais que ainda têm reflexos no cenário sociopolítico do país. A despeito das várias linhas de análise e interpretação do que aconteceu em junho de 2013 e do que ele provocou, fato é que o país não foi mais o mesmo desde então. 

À bandeira da tarifa zero no transporte público se somaram dezenas de pautas que não cabiam em um cartaz. De forma ampla e difusa, as avenidas abrigaram agendas que iam desde melhorias estruturais no sistema político, na saúde, na educação, no combate à corrupção, na oferta de emprego, nos índices econômicos até cobranças de investigação das obras da Copa do Mundo, a renúncia do então presidente do Senado, Renan Calheiros, a rejeição da PEC 37, que tirava do Ministério Público a competência para investigar crimes, e o fim do foro privilegiado para políticos. 

Em apenas um mês, os atos ligados ao transporte deram lugar a um clima de insatisfação generalizada e uniu diferentes demandas, levando milhões de brasileiros para as ruas. A extensão do ato levou muitos analistas a considerarem as jornadas de 2013 como a maior manifestação da sociedade civil do período da nova república, iniciada em 1985 com a redemocratização.

O movimento chamou a atenção inicialmente pela tática black bloc e por atos de vandalismo. A repressão policial contra os manifestantes e jornalistas também acabou inflando ainda mais o movimento que se espalhou por todo o país. Dados da época mostram que pelo menos 500 cidades registraram protestos vinculados às jornadas de junho, incluindo os municípios do Vale do Paraíba.

O evento histórico também marcou o início do uso em massa das redes sociais para mobilização popular. Foi por meio de grupos e páginas do Facebook que ocorreram as principais convocatórias para a participação nos protestos de 2013. O ambiente digital também serviu aos manifestantes para divulgar uma narrativa alternativa ao que a grande mídia apresentou inicialmente sobre o movimento e viralizar imagens e vídeos dos abusos policiais contra os manifestantes. “Em 2013, a Internet é central para entender as formas de atuação, de debate público e de organização de protestos”, comenta Jonas Medeiros, sociólogo e pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

REVIRAVOLTA.

Já no ano seguinte às jornadas de 2013, teve início a Operação Lava Jato que resultou anos depois na prisão de Lula. As eleições de 2014 que sagraram a reeleição apertada de Dilma Rousseff também anunciaram que havia um processo diferente em andamento. O resultado foi contestado pelo adversário tucano Aécio Neves e prenunciava o que viria a ocorrer nas eleições de 2022.

A partir de 2015, eclodiram outras manifestações pelo país, dessa vez com o foco no impeachment do governo Dilma, consumado em 2016  pelo Congresso Nacional.

Na rápida gestão de Michel Temer, houve a greve geral dos caminhoneiros e o eleitorado de direita sinalizava que não estava satisfeito, até que elegeu Jair Bolsonaro em 2018 com a defesa de uma agenda extremamente conservadora. E em 2022, em meio a protestos golpistas, temos a volta do presidente Lula à presidência após sua absolvição pela Justiça.

“2013 trouxe uma sensação de vertigem, de liberdade, mas uma agenda retrógrada encontrou espaço e agenciou politicamente”, diz Lilia Schwarcz, antropóloga e historiadora da USP (Universidade de São Paulo).

O fenômeno de 2013 é lembrado pelos desdobramentos, mas analistas destacam que a chave também está em suas origens. “Tem muitas análises que vêem 2013 como uma coisa completamente inesperada, mas não foi. Em 2011, houve um aumento enorme de greves e  outros movimentos sociais estavam efervescentes no país. Não podemos isolar junho de 2013 de outros acontecimentos, como a greve dos garis no Rio de Janeiro, o movimento dos sem teto e várias outras coisas até em nível global, como os movimentos nos Estados Unidos, na Turquia, a primavera árabe no Oriente Médio”, disse Sean Purdy, professor do Departamento de História da USP”.

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