CRESCIMENTO

PIB da RMVale cresce menos de 1% em 10 anos

Região só ganha da Baixada Santista e sofreu com quedas sucessivas em anos de crise. Região de Campinas cresceu 9,7%.

Por Débora Brito | 08/05/2023 | Tempo de leitura: 5 min
São José dos Campos

Cláudio Vieira / PMSJC

Afetado pela desindustrialização, Vale do Paraíba cresceu apenas 0,8% em uma década
Afetado pela desindustrialização, Vale do Paraíba cresceu apenas 0,8% em uma década

A taxa acumulada de crescimento do PIB da Região Administrativa de São José dos Campos não chegou a 1%, no período de 2012 a 2022. Em 10 anos, a RMVale cresceu apenas 0,8%, resultado superior somente ao da região de Santos, que não passou de 0,3%.

A região de Campinas cresceu 9,7% e a capital paulista 3,7%. A maior taxa de crescimento no período foi alcançada pela região administrativa de Registro, com 103,5%. A informação consta em Boletim da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), que reuniu os indicadores do PIB estadual dividido por regiões.

O período analisado engloba anos de crise econômica, além da pandemia. Na RMVale, houve queda no PIB total em metade dos dez anos analisados pelo Seade. Foram três quedas consecutivas (2014 a 2016) e outras duas seguidas em 2019 e 2020, que registrou a maior baixa da década (-4%).

“Em outras regiões ocorreu uma recuperação puxada pelo setor agroexportador. No Vale não, porque dependemos muito da indústria e acabamos tendo muita dificuldade nessa expansão”, comenta o economista da Unitau, Edson Trajano.

O fraco desempenho da RMVale na década pode ser explicado, em parte, pelo menor dinamismo da indústria, comparada à região de Campinas, que tem atraído a maior parte dos novos investimentos do estado, desde 2010.

“O Vale foi extremamente prejudicado pela desindustrialização brasileira e pela ausência de uma política industrial”, reforça Trajano.

O impacto é revelado pela queda no volume de empregos gerados pela indústria na região. Dados do Caged compilados pela Unitau mostram que, de 2010 a 2019, em São José dos Campos houve extinção de 9.512 empregos formais na indústria que representam 20,65% dos postos de trabalho do setor. Em Taubaté, a perda foi de 8.024 mil (30,15%).

“Os setores mais modernos e de densidade tecnológica ainda não conseguem compensar a queda da atividade industrial”, sinaliza o economista do Seade, Vagner Bessa.

REGIÕES.

No informe,  o estado é dividido em três grandes regiões, de acordo com suas especialidades econômicas: a RMSP (Região Metropolitana de São Paulo); o entorno da RMSP (na qual estão incluídas as regiões de Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Baixada Santista) e a chamada Região do Agronegócio, que engloba Ribeirão Preto, Bauru, Franca, Barretos, Marília, Itapeva, entre outros municípios.

Na década de 2012 a 2022, a taxa média de crescimento do estado foi de 6,7%. O destaque foi a região do agronegócio, que cresceu 15,7% nos últimos 10 anos. O entorno da RMSP registrou a segunda maior taxa de crescimento (8,7%) e a RMSP, apesar de ser ainda a região mais industrializada do estado, alcançou a menor taxa de crescimento: 3,7%.

No entanto, quando se considera a participação de cada região no PIB estadual no período analisado, o ranking se inverte. A RMSP aparece com o maior percentual (50,3%), seguida do entorno (33,6%), e, por último, a região do agronegócio (16%).

O desempenho da RMSP se deve ao setor de serviços, que é responsável por 56,4% pelo crescimento da região, com destaque para as atividades de informação, comunicação, sistema financeiro, contabilidade, arquitetura, pesquisa, têxtil, confecção e grandes centros de saúde.

Já no entorno, o PIB foi puxado pelo setor industrial, que representa praticamente metade do valor agregado na área (49,6%). E na região do agronegócio, a agropecuária lidera a atividade econômica com o percentual de 67,5% do PIB, com forte encadeamento com a indústria, principalmente a sucroalcooleira, de máquinas e a de alimentos.

“Há 20 anos, a indústria tinha maior dinamismo na região do ABC, Guarulhos e capital. Houve um processo de desindustrialização nessa área, que perdeu investimentos relevantes e ainda não foi compensada pelo crescimento do setor de serviços. A indústria está crescendo na região do entorno em um ritmo muito maior. A indústria mais moderna e dinâmica está nas regiões de São José dos Campos, Campinas, Sorocaba, que têm atraído os investimentos mais relevantes”, destaca Bessa a OVALE.

INVERSÃO.

O estado passa por um período de transição, como uma forte interiorização da indústria e diversificação das atividades. E já é possível perceber que a soma do PIB do entorno e o da região do agronegócio está bem perto de alcançar o da área metropolitana.

O crescimento das atividades do entorno e do agronegócio ainda é muito dependente do cenário internacional e de questões climáticas. E se dinamizar mais, é possível que as atividades do interior superem o desempenho industrial tradicional que marcou o desenvolvimento do estado em décadas anteriores.

“Esse dado é geracional e muda pouco de ano a ano. Mas olhando no longo prazo há uma possibilidade sim de que o PIB do interior ultrapasse o da região metropolitana, se a economia da RMSP não encontrar um caminho nessa reestruturação da capacidade de produção de riqueza da região, que ainda não foi compensada pela perda da indústria, porque a indústria gerava muito valor”, analisa Bessa.

MAPEAMENTO DE VOCAÇÕES.

O vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth, disse a OVALE, que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico está fazendo um levantamento das especialidades ecoômicas de cada região do estado para evitar aumento das diferenças de crescimento entre as cidades. No caso do Vale, Felício cita ainda a possibilidade de investimentos em outros setores, como turismo, economia criativa e sustentabilidade.

"É importante fomentar e buscar benefícios regionais de acordo com as vocações, para que a gente possa enfrentar os próximos dez anos com resultados melhores. São Paulo tem que fomentar esse crescimento do PIB porque isso significa geração de emprego e renda e no Vale do Paraíba não vai ser diferente. existe um mapeamento buscando as vocações de cada região para que a gente não repita dentro de SP resultados como esse de 0,8%, declarou.

O prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias, afirmou a OVALE que uma das principais ações para reverter esse quadro será investir em qualificação e formação de mão-de-obra para a indústria 4.0 e o mercado do futuro, além de investir nas empresas atuais e projetos de desburocratização para incentivar o empreendedorismo.

"Temos que buscar novos investimentos, mas não adianta abrir uma empresa e fechar duas. Tivemos saldo positivo de empregos desde a pandemia, mas isso temos que atingir não apenas em um única área, temos que fomentar na indústria, no comércio, no serviço e na construção civil, que em SJC, nos últimos 12 anos teve uma participação muito forte", afirmou.


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