
Devotos de Nossa Senhora Aparecida que visitam o Santuário Nacional vindos de todas as partes do Brasil costumam levar uma lembrança para a casa.
Velas, santinhos, pulseiras, camisetas, imagens e quadros estão entre os objetos preferidos dos romeiros que passam por Aparecida, às vezes uma vez por ano.
Mas há uma pequena parcela que prefere levar de lembrança um item muito mais inusitado: um pedaço do tijolo do muro ao redor da Basílica Nacional.
Não é raro ver tijolos faltando pedaços ao longo da imensa muralha de 2,3 quilômetros de extensão, que circunda e protege quase todo o perímetro do Santuário Nacional.
O muro passa ao largo das três avenidas em Aparecida – Getúlio Vargas, Júlio Prestes e Itaguaçu – que formam a menor rodovia federal do país, a BR-488, ligação da Via Dutra com a Basílica. Procurado sobre o assunto, o Santuário Nacional não comentou.
RELÍQUIA
Como apurou OVALE, o pedaço de tijolo pode servir como relíquia e até ser colocado em altares caseiros ou pequenas capelas em casas de romeiros, especialmente no interior do país. Seria um ato de fé popular, embora não recomendado pelos motivos óbvios.
De acordo com uma fonte na Basílica ouvida pela reportagem, o auge da retirada de tijolos ou de pedaços de tijolos do muro do Santuário Nacional ocorreu durante a festa de 300 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 2017.
De lá para cá, o muro da Basílica vem ganhando cada vez mais uma proteção natural da planta hera, que impede que os tijolos sejam retirados ou cortados. É uma ‘manta verde’ protegendo os tijolinhos que abrigam o ‘manto azul’ de Nossa Senhora Aparecida.
PASTORAL
Aliás, haja tijolos. Com quase 72 mil metros quadrados, a Basílica foi construída com 25 milhões de tijolos, que ganharam um significado pastoral, além de ilustrar uma campanha de arrecadação de fundos para as obras do templo.
Segundo o missionário redentorista padre João Batista de Almeida, ex-reitor do Santuário Nacional, os tijolos são mais um caminho para os devotos chegarem a Deus. “Deus vai dispondo as situações, de tal maneira que as pessoas vão podendo enxergar um pouco mais da Sua presença nos lugares, nas pessoas e nas situações”.
De acordo com a Basílica, o tijolo não serve apenas para a sustentação estrutural, mas é um elemento que leva à reflexão sobre o que somos, imagem e semelhança de Deus. Outro elemento da simbologia dos tijolos está relacionado à imagem de Nossa Senhora, encontrada em 1717 nas águas do Rio Paraíba. Ela é feita de barro, de terracota, de material semelhante aos tijolos.
“Toda essa simbologia vem ao encontro do propósito do Santuário, que é a evangelização, permitindo que Deus guie a história e seja presença viva a todos os que aqui celebram a sua fé.”
BÍBLIA
O que pode causar arrependimento aos eventuais devotos que alguma vez levaram pedaços de tijolos da Basílica é que roubar fere um dos mandamentos de Deus. Neste caso, os sacerdotes do Santuário indicam a confissão e a contrição como formas de se reconciliar perante Deus.
Contudo, alguns deles podem ter se inspirado no Evangelho de São Tomé, texto apócrifo que a Igreja Católica não reconhece.
Em duas de suas passagens, Jesus Cristo teria dito: “Eu sou a luz que está acima deles todos. Eu sou o todo: o todo saiu de mim e o todo se reuniu a mim”. E mais “Rachai uma madeira: eu estou ali. Levantai uma pedra e me achareis”.
No caso dos tijolos, vai ver que as palavras “rachai e levantai” foram levadas ao pé da letra. Só Deus sabe.
Números do Santuário Nacional
Pedra fundamental: 10 de setembro de 1946
Construção: início 11 de novembro de 1955
Primeiras construções: Nave Norte e Torre da Brasília
Formato: Cruz Latina, para relembrar o Cristianismo
Planta: arquiteto Benedito Calixto de Jesus Neto
Basílica: 72 mil metros quadrados de área construída
Construção: mais de 25 milhões de tijolos e 257 mil telhas azuis
(Fonte: Santuário Nacional)