DE OLHO NAS ELEIÇÕES

Derrite quer presidir comissão, após ser pivô de crise com Lula

Por Raphael di Cunto | da Folhapress
| Tempo de leitura: 3 min
Lula Marques/Agência Brasil
O deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP)
O deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP)

Pivô de uma crise aguda entre o governo Lula (PT) e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) atua nos bastidores para assumir a presidência da Comissão de Segurança Pública e se manter em evidência durante o ano eleitoral de 2026.

A reportagem apurou que a presidência da comissão é prioridade para o PP, partido ao qual Derrite se filiou para disputar a eleição para o Senado. Nos últimos anos, o colegiado foi comandado por deputados do PL, que usaram o posto para pressionar o governo Lula na pauta da segurança pública, tema considerado o mais frágil do petista eleitoralmente.

Derrite, de acordo com interlocutores, pretende usar esse espaço para reforçar sua campanha ao Senado ao longo do ano, após se afastar antecipadamente da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para retomar o mandato na Câmara. A comissão trata dos projetos relacionados à área e tem o poder de convocar o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, para dar explicações.

Derrite deve enfrentar, no entanto, resistência de seu antigo partido, o PL. Num acordo interno no ano passado, a sigla decidiu que Paulo Bilynskyj (SP) presidiria a comissão em 2025 e que Coronel Meira (PE) ficaria no comando em 2026. A sigla tem a preferência para escolha das comissões, por ser a maior bancada da Câmara. Meira não retornou os contatos da reportagem para comentar.

Já o PT não vê a situação como um problema, e entende que os principais projetos da segurança pública serão mais discutidos fora da comissão do que nela. As apostas do presidente para mostrar resultados nessa área são a PEC (Proposta de Emenda à Constitução) da Segurança Pública, que está numa comissão especial, e o projeto de lei Antifacção, debatido direto no plenário.

Entre os petistas, há inclusive quem acredite que a presidência da comissão pode ser um trunfo para convencer Motta a não nomear novamente Derrite relator do projeto antifacção, agora que o projeto retornou à Câmara após ser modificado pelo Senado. Presidir o colegiado que trata sobre o tema poderia funcionar como um prêmio de consolação, caso a estratégia dê certo.

Foi esse o projeto que provocou uma das mais graves crises entre o presidente da Câmara e o governo, com troca de acusações públicas e um rompimento de Motta com o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ).

A escolha de Derrite como relator, função responsável por negociar as alterações no texto, irritou Lula e o PT por se tratar do então secretário de Tarcísio, visto na época como provável adversário do petista na eleição presidencial de 2026, antes de o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) lançar sua candidatura.

Derrite transformou o texto num novo arcabouço legal e rebatizou de Marco Legal do Combate ao Crime Organizado, com uma série de novos tipos penais e a tentativa de classificar grupos como o PCC (Primeiro Comando da Capital) como terroristas. A proposta foi criticada por especialistas por enfraquecer a atuação da Polícia Federal e desorganizar o papel das polícias estaduais, e o parlamentar acabou recuando.

O projeto foi aprovado sob protestos do governo em novembro, após seis versões diferentes em menos de duas semanas. Foram 370 votos favoráveis e 110 contrários. Derrite fez alterações no texto e optou por criar uma lei autônoma sobre organizações criminosas ultraviolentas, afastando-se da proposta original do Executivo de apenas atualizar a legislação vigente.

Esse foi um dos pontos modificados pelo Senado. O senador Alessandro Vieira (MDB-SE) retomou a ideia de atualizar a legislação atual, aproveitando parte do texto da Câmara e sugestões dos senadores. A proposta cria a categoria de "facções criminosas" e regras específicas para a integração entre as forças federais e estaduais, limita as possibilidades de progressão e endurece as penas.

Como o projeto foi modificado, a Câmara terá que votar agora se concorda com as alterações ou as rejeita. O PT defende aprovar a versão do Senado, enquanto o PL quer retomar o texto de Derrite. Por isso, a discussão acabou adiada para 2026.

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