Bauru entra mais uma vez no ciclo das eleições para deputados estaduais e federais carregando um paradoxo conhecido: tem peso eleitoral relevante, mas ainda sofre para converter votos em representatividade política efetiva.
Na última eleição geral, o município contou com cerca de 282 mil eleitores aptos, número que, por si só, seria suficiente para eleger ao menos um deputado com folga, tanto na Assembleia Legislativa quanto na Câmara Federal. No entanto, os dados mostram uma realidade menos animadora.
Em 2022, mais de 50% dos votos válidos para deputado federal dados pelo eleitor bauruense foram destinados a candidatos de outras cidades. Ou seja, a maioria do eleitorado optou por nomes sem vínculo direto com o município. Na disputa para deputado estadual, o cenário foi apenas um pouco menos desfavorável: quase metade dos votos também saiu de Bauru, espalhando-se por candidaturas externas.
Esse comportamento do eleitor não acontece por acaso. Ele é reflexo direto da fragilidade histórica das candidaturas locais, muitas surgem sem lastro político consistente, sem articulação regional e, principalmente, sem projeto claro de representação.
É nesse ponto que entra a figura cada vez mais conhecida do dublê de candidato.
O dublê de candidato não entra na disputa para ganhar. Entra para marcar posição, para cumprir tabela partidária, para testar recall ou simplesmente para dizer que “tentou”. Falta estrutura, falta base eleitoral fora do próprio círculo imediato e, quase sempre, falta competitividade real.
O resultado é previsível: votos pulverizados, desempenho tímido e mais um ciclo eleitoral desperdiçado para a cidade.
Enquanto isso, candidatos de fora, com campanhas profissionalizadas e bases regionais amplas, seguem avançando sobre o eleitorado bauruense, ocupando um espaço que deveria, em tese, ser preenchido por representantes da própria cidade.
Nesse tabuleiro, a Câmara Municipal de Bauru desempenha papel central. Com 21 vereadores, o Legislativo local historicamente se transforma em uma espécie de incubadora eleitoral. A cada novo pleito, parte desses parlamentares ou de seus grupos políticos flerta com disputas estaduais e federais. O problema é que quantidade não significa qualidade eleitoral.
Nem toda candidatura que nasce na Câmara nasce viável. Muitas acabam reforçando o fenômeno do dublê de candidato: discursos fortes no plano local, mas incapazes de atravessar os limites do município ou dialogar com uma base regional mais ampla.
O efeito prático disso é conhecido. Bauru vota, mas não leva. Participa numericamente, mas assiste à ocupação de suas cadeiras por representantes de outras regiões. O eleitor, por sua vez, oscila entre apostar em nomes externos já consolidados ou arriscar em candidaturas locais que nem sempre demonstram preparo para o tamanho do desafio.
Com o próximo pleito se aproximando, a pergunta que se impõe não é quem será candidato o calendário resolve , mas quem, de fato, tem chance real. Quem entra na disputa para representar Bauru com musculatura política, articulação e voto regionalizado. E quem aparecerá apenas como dublê de candidato, ajudando a inflar estatísticas, mas não a fortalecer a voz da cidade.
No fim das contas, o problema não é falta de eleitor Bauru tem eleitor de sobra. O que ainda falta é transformar voto em poder político real e isso exige menos dublês e mais protagonistas.
O autor é Publicitário e Jornalista, Marketing de Varejo pelo IESB, MBA em Marketing Político e Pesquisa pela ESAB Pós Graduação em Estratégias Competitivas pela UNESP/Faac. Diretor da Azul Tomate Comunicação e Marketing Ltda.