Neste Dia das Mães, observa-se uma transformação significativa na forma como a maternidade é vivenciada pelas gerações mais jovens. As mães das gerações Millennials (nascidas entre 1981 e 1996) e Geração Z (nascidas a partir de 1997) têm adotando abordagens parentais que priorizam a empatia, a inteligência emocional e a conexão com os filhos, em contraste com os métodos mais autoritários das gerações anteriores.
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Outra perspectiva sobre a maternidade
As mães Millennials valorizam a flexibilidade, a diversidade e a inclusão, buscando criar ambientes familiares que reflitam esses valores. Elas utilizam as redes sociais para compartilhar experiências e buscar apoio, criando comunidades virtuais que transcendem barreiras geográficas. A saúde mental e o autocuidado tornaram-se prioridades, influenciando diretamente na forma como educam seus filhos.
Já as mães da Geração Z, nativas digitais, incorporam a tecnologia ainda mais intensamente na parentalidade. Utilizam aplicativos e plataformas online para facilitar a criação dos filhos e estão altamente conscientes das questões sociais e ambientais, educando suas crianças sobre sustentabilidade e igualdade desde cedo.
Inteligência emocional e disciplina consciente
A parentalidade contemporânea dessas gerações é marcada por uma abordagem que valoriza a inteligência emocional. Em vez de punições, as mães optam por conversas abertas, co-regulação e respeito mútuo. As crianças são incentivadas a reconhecer e expressar suas emoções, desenvolvendo habilidades que muitos pais só adquiriram na vida adulta.
A disciplina consciente é uma alternativa refrescante à punição, e tem os limites não como mecanismos de controle, mas como estruturas para a segurança emocional. Em vez de reagir a birras, as mães modernas fazem uma pausa e perguntam: "O que meu filho está tentando comunicar?"
Desafios e equilíbrio
Apesar das abordagens inovadoras, as mães Millennials e da Geração Z enfrentam desafios significativos. Segundo uma pesquisa da Deloitte Brasil, 50% da Geração Z e 45% dos Millennials no país sentem-se ansiosos ou estressados na maior parte do tempo. As preocupações financeiras e o bem-estar da família são fatores contribuintes.
Além disso, essas mães buscam equilibrar a vida profissional e pessoal. Elas valorizam o tempo em família e procuram atividades que promovam o bem-estar de todos, praticando e incentivando hobbies e atividades ao ar livre.
Parece perfeito, mas não é
Se por um lado a maternidade das gerações Millennials e Z tem sido celebrada por priorizar o afeto, o diálogo e a saúde emocional, por outro, o Brasil que essas crianças herdarão está longe de ser um reflexo da harmonia prometida por essa “nova era da criação dos filhos”. Os dados da realidade social e educacional do país revelam um abismo entre o discurso da parentalidade consciente e o cotidiano de milhares de famílias, em especial nas periferias e regiões mais vulneráveis.
Outra contradição desse cenário moderno é o crescimento das taxas de suicídio entre adolescentes e jovens adultos. Segundo dados do Datasus (Ministério da Saúde), o suicídio entre jovens de 10 a 19 anos aumentou 45% nos últimos dez anos. A depressão, os transtornos de ansiedade e o sofrimento psíquico severo vêm atingindo com força essa faixa etária, justamente a que está sendo educada sob as diretrizes da parentalidade mais “conectada” emocionalmente.
O aumento do uso precoce de telas, a hiperexposição digital e a pressão estética e de desempenho contribuem para uma juventude emocionalmente sobrecarregada, ainda que cercada por pais atentos. As redes sociais, muitas vezes onde esses pais buscam apoio, também funcionam como gatilhos para comparações, bullying virtual e isolamento.
O avanço da parentalidade consciente ainda não foi capaz de romper com as estruturas sociais mais profundas que perpetuam a violência. O feminicídio, por exemplo, cresce: somente em 2023, o Brasil teve mais de 1.400 casos, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em grande parte dos casos, filhos presenciam ou vivem essas violências, o que gera traumas que podem se manifestar em diferentes formas de agressividade ou bloqueios emocionais no futuro.
A parentalidade moderna tem virtudes notáveis e avanços que precisam ser reconhecidos. Mas também esbarra nas limitações concretas de uma sociedade profundamente desigual, violenta e em crise afetiva e estrutural. Celebrar o afeto e o diálogo é importante, mas não deve cegar a sociedade para as feridas abertas que ainda definem a experiência de ser jovem no Brasil. Uma geração mais empática só poderá florescer de fato quando as condições sociais, educacionais e econômicas também forem transformadas.
*Com informações do Free Press Journal e IBMEC Insights