
Uma pesquisa da Quaest lançada em julho do ano passado mostra que o segundo maior problema para os brasileiros é a violência. A questão fica atrás da economia, mas ultrapassa a saúde e outros aspectos sociais. Em Bauru, a segurança pública também preocupa a população, que viu um aumento de 66,67% nos homicídios em quatro anos, segundo um levantamento do JC realizado com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP). Em 2021, foram 18 casos, seguidos de 22 em 2022, 29 em 2023 e 30 em 2024.
A alta também foi registrada nos boletins de ocorrência (BOs) lavrados como tentativa de homicídio, que cresceram 68,97% desde 2022, quando a SSP passou a divulgar esse recorte. Naquele ano, foram 29 registros. Em 2023, o número saltou para 39 e, em 2024, chegou a 49.
Outro sintoma do crescimento da violência são os BOs registrados como "lesão corporal dolosa", quando ocorrem agressões propositais. Nestes casos, o aumento foi de 19,56%, saltando de 1.534 casos em 2022, para 1.834 em 2024.
Para Thiago Tezani, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Subseção Bauru, o aumento da violência é reflexo da piora de outros indicadores sociais. "Quando a questão econômica de um governo vai mal, aumenta-se também a violência. Paralelo a isso, temos a postura mais repressiva adotada pelo Governo do Estado em detrimento da prevenção. Tanto que o investimento é muito maior na Polícia Militar do que na Polícia Civil", afirma o advogado.
"Na minha experiência como criminalista, quando os homicídios ocorrem na periferia, grande parte deles estão ligados ao tráfico de drogas. Em áreas em que a população tem maior escolaridade, em geral, são crimes passionais. Não mudaram as causas da violência, elas só aumentaram", complementa Tezani.
O presidente da OAB aponta, ainda, o papel do Estado nesse contexto. "Nesta gestão, também houve um aumento na violência policial, o que também reflete na sociedade como um todo. Mas a questão é bem complexa e envolve políticas públicas que vêm fracassando", ressalta Tezani.
Impunidade
Uma pesquisa do Instituto Sou da Paz mostrou que 60% dos homicídios ocorridos no Estado de São Paulo em 2022 não foram solucionados. O percentual faz parte do relatório "Onde mora a impunidade?" e foi publicado em novembro do ano passado. O baixo percentual de esclarecimento de homicídios é outro fator que permite a proliferação da violência no âmbito municipal.
"Um índice alto de solução de processos e a resposta rápida do Judiciário e do Estado tem caráter preventivo. As pessoas veem isso e não cometem o crime porque sabem que podem ser presas. Então quanto maior a impunidade, maior a sensação de que o criminoso pode se livrar [das consequências]", diz Tezani.
O advogado afirma que a OAB Bauru criou um observatório do Judiciário para poder acompanhar as questões da celeridade dos processos na cidade. "Nós vamos parametrizar e lançar métricas locais de como as investigações estão andando. Isso pode ajudar a melhorar as políticas públicas relacionadas", destaca.
Ranking do crime
Em Bauru, os crimes mais comuns em 2024 foram registrados como "Furto - Outros" (4.312 casos); "Lesão Corporal Dolosa" (1.834 casos); Lesão Corporal Culposa por Acidente de Trânsito (1.373 casos); "Furto de Veículos" (418 casos) e "Tráfico de Entorpecentes" (356 casos).
O levantamento do JC também mostra quais os bairros onde a incidência de crime foi maior. Disparado em primeiro lugar está o Centro de Bauru, com 1.040 ocorrências no ano passado. O Parque Santa Edwiges está em segundo lugar com apenas 138 ocorrências no ano, seguido pelo Bela Vista (118) e o Parque Jaraguá (111).
Diminuição
Em contrapartida, de 2022 para 2024, Bauru registrou queda nos casos de roubo, quando bens são subtraídos mediante violência ou grave ameaça. Em 2024, foram 319, uma diminuição de 31,10% em relação a 2022 — ano em que ocorreram 463 assaltos.
Os furtos também reduziram em 11,60%. O número era de 4.878 casos em 2022 e diminuíram para 4.312 em 2024. Esse tipo de crime, porém, segue disparado na liderança entre as ocorrências mais comuns de Bauru.
Tanto que a prefeita Suéllen Rosim (PSD) decidiu encaminhar à Câmara Municipal um projeto para criação da Guarda Municipal. Ao JC, ela revelou preocupação com o aumento na incidência de furtos no Centro, problema do qual têm se queixado vários comerciantes, mas salientou que, além da Guarda Municipal, o governo vai manter a parceria com a Polícia Militar (PM) através da atividade delegada.
SSP
O JC procurou a SSP para se manifestar. A pasta destacou que trabalha para combater todas as modalidades de violência e destacou a diminuição do total de vítimas de homicídios dolosos no cenário estadual.
"O Governo de São Paulo, desde o início da atual gestão, tem investido no fortalecimento das ações de proteção às pessoas e no combate à criminalidade em todo o Estado. A SSP monitora atentamente os indicadores criminais e trabalha para combater todas as modalidades de violência no estado, incluindo os casos de homicídio, que em 2024, registrou os menores números de casos (2.485) e vítimas (2.594) de homicídios dolosos em 24 anos, permitindo que as taxas desses índices chegassem ao menor patamar desde 2001. O policiamento ostensivo e preventivo segue intensificado em todo o estado, com prioridade para as áreas com maior incidência de crimes e com o emprego de operações específicas realizadas pelas polícias Civil e Militar. Investigações conduzidas pelas delegacias têm priorizado a identificação e responsabilização dos autores de homicídios. Como resultado, ao longo do ano passado, 1.557 pessoas foram presas e apreendidas em flagrante pela Seccional de Bauru. As armas apreendidas teve um aumento expressivo de 29%, evidenciando o trabalho policial durante o ano de 2024", afirma em nota encaminhada ao JC.
A secretaria também falou sobre os casos de violência policial. "As forças de segurança de São Paulo não compactuam com excessos ou desvios de conduta, punindo com rigor aqueles que infringem a lei ou violam normas institucionais. Desde o início do ano passado, mais de 300 policiais foram demitidos e expulsos, enquanto mais de 450 agentes foram presos. Esses números refletem a atuação rigorosa e independente das corregedorias das polícias, que trabalham para garantir que nenhuma irregularidade fique impune", informa.