O caso do menino de nove anos de idade que pulou o muro do Hospital Veterinário Vila Pet, no interior do Paraná, e maltratou e matou 23 animais de estimação em 40 minutos provocou, imediatamente, indignação e uma resposta unânime: "trata-se de um psicopata!". Afinal, por curiosa ou agressiva que uma criança seja, não é normal, corriqueiro ou aceitável que pessoas com tão pouca idade inflijam dor a outras pessoas ou a animais de estimação.
Leia também: O que se sabe sobre menino que mutilou e matou 23 animais; VÍDEO
Leia também: Menino que matou 23 bichos não aparentou remorso, diz veterinário
Leia também: Única coelha sobrevivente recebe homenagem
Leia também: Menino de 9 anos invadiu fazendinha um dia após inauguração
Para dar luz à questão da infância e psicopatia, a reportagem do portal SAMPI entrevistou o médico psiquiatra Rodrigo Gasparini, responsável técnico do Francisca Julia - Bem-estar mental, de São José dos Campos (SP).
Logo de início, o profissional descarta o diagnóstico de psicopatia em crianças. "A gente não pode falar em psicopatia na infância. A psicopatia é um transtorno chamado de Transtorno da Personalidade Antissocial e só pode ser diagnosticado a partir dos 18 anos de idade. Agora, podem existir alguns tipos de padrão de comportamento da criança que já indiquem uma possibilidade de evolução de uma personalidade antissocial? Sim", explicou.
Definições durante a infância
"Até os oito anos de idade, se a criança apresenta comportamentos que a gente chama de não adaptativos, como comportamento violento, dificuldade de aceitação de pequenas regras, enfrentamento de autoridades como pais, professores, policiais intolerância à frustração, impulsividade, violência; se é agressva com outras pessoas e consigo mesma, isso pode cartacterizar, até essa faixa etária de oito anos, o TOD (Transtorno Opositor Desafiador)".
"Se isso não for devidamente acompanhado e tratado, a partir dos dez anos pode evoluir para o transtorno de conduta, porque, a partir dessa idade, a criança que passa a ser adolescente, já tem uma consciência desses comportamentos não adaptativos, que não são adequados, e mesmo tendo consciência disso, mantêm os comportamentos e muitas vezes passa a sentir prazer ou não ter inibição, e isso evolui para o transtorno de conduta".
Caso o transtorno de conduta não seja acompanhado de perto e tratado, a partir dos 18 anos anos pode evoluir para transtorno de personalidade social, "ou o que chamamos vulgarmente de psicopatia", explicou o médico.
Quando curiosidade ou "maldade" é anormal?
Alguns comportamentos em determinadas idades são considerados naturais. Quando esse comportamento pode ser um sintoma, sinal ou traço de um problema?
"Quando esse comportamento passa a ser repetitivo, quando observamos que a criança, mesmo sendo limitada, continua fazendo. A gente observa que a criança passa a sentir prazer nesse tipo de comportamento não adaptativo", explicou Gasparini.
A influência do meio
"Sem dúvida pode haver outros fatores contextuais que expliquem esse comportamento. Muitas vezes, a criança passa a ter um comportamento disruptivo ou pouco adaptativo, pode mudar de repente de um comportamento tranquilo para um agressivo, irritadiço, ansioso ou violento como resposta a um sofrimento que ela, pela idade, não sabe ainda dar nome ou explicar".
"Hoje, a gente sabe que transtornos de personalidade têm um componente genético importante, então, famílias com casos de transtorno antissocial têm mais chance de terem outros membros com o mesmo ou outros transtornos de personalidade. E como eu disse, fatores sociais, por exemplo, situações de violência, desnutrição ou subnutrição, stress durante a primeira infância, uso de substâncias psicoativas, tudo isso pode influenciar."
Criança gosta de causar dor?
Não é comum que a criança sinta prazer ou curiosidade em causar sofrimento nem a pessoas nem a animais, e isso independe de freios morais, sociais ou éticos, os quais a criança não compreende. Apesar de o comportamento violento ser instintivo - o ser humano é, por evolução, violento; a gente tem mecanismos fisiológicos de luta, fuga e autodefesa -, nota-se na criança o o afeto instintivo por outras crianças e por animais domésticos, esclareceu o doutor Gasparini.
O que fazer ao notar atitudes agressivas?
Segundo o médico, os pais precisam primeiro perguntar por que a criança teve aquela atitude malvada. Falta nos pais a habilidade de ouvir, disse o especialista.
A tendência é já rotular a criança, porque o rótulo facilita, assim, se uma criança se comporta de tal maneira, é porque foi diagonosticada com tal transtorno, e isso parece confortar, mas o médico alerta que "o caminho é, primeiramente, perguntar o que a criança está sentindo, e sem dúvida também orientar que tal comportamento não é adequado, não é esperado não é agradável para o outro ou para o animal".
O médico enfatiza que a intervenção precoce é fundamental, pois transtornos de personalidade, apesar de não terem cura, têm tratamento que pode incluir psicoterapia e medicamentos. Além disso, na menor parte dos casos, a violência é sintoma de algum transtorno como o TOD. "Na maioria das vezes, a agressividade não é um traço patológico da personalidade, mas reflexo ou sintoma de um sofrimento psíquico", concluiu o psiquiatra.
Comentários
1 Comentários
-
APARECIDO DONIZETE NUNES 16/10/2024Voces acham que um Pestinha dessa tem salvação, essa Pestinha vai virar um Marcola quando crescer.