De acordo com especialistas, esse é o primeiro estudo com mais de dez anos de acompanhamento que avalia a fertilidade em pacientes com menos de 40 anos com doença não metastática. “A maioria dos estudos anteriores levavam em consideração um follow up mais curto e não tinham foco tão específico para a parte gestacional”, analisa a oncologista Patrícia Taranto, do Hospital Israelita Albert Einstein. “A pesquisa traz um cenário esperançoso para essas pacientes jovens com câncer de mama em estágio inicial, pois os achados sugerem que é possível conciliar o cuidado com a saúde e o desejo de gestar.”
O tratamento desse tumor impacta a fertilidade porque a quimioterapia pode levar a uma supressão da função ovariana, com indução de menopausa precoce. Nos tumores chamados receptores hormonais positivos, a terapia para reduzir os níveis dos hormônios que “alimentam” a doença também é capaz de causar a falência dos ovários.
No entanto, há meios de reduzir esse risco, conciliando o tratamento para câncer de mama com medicamentos para proteger a função ovariana. Outro importante aliado é o aconselhamento de fertilidade, com congelamento de óvulos ou embriões.
O estudo avaliou dados de 1.213 mulheres diagnosticadas com tumores de mama não metastáticos entre os anos de 2006 e 2016. Nesse período, 197 tentaram engravidar, e a maioria conseguiu. Apenas 28% tinham feito tratamentos para preservar a fertilidade e as chances de gestação foram maiores para esse grupo e aquelas mais jovens.
“É possível engravidar sem fazer a preservação de fertilidade”, explica Taranto. “Mas com o congelamento prévio de óvulos ou embriões as chances aumentam caso haja problemas de indução de menopausa precoce por conta do tratamento.”
Por isso, os autores reforçam a importância de maior acesso a essas informações e a serviços para preservação e orientação sobre a fertilidade. “É importante que essas pacientes tenham acesso tanto ao apoio emocional quanto às orientações logo no início do diagnóstico para poderem se prevenir antes de começar o tratamento e se programar sobre a possibilidade de congelamento de óvulos ou embriões, independentemente do tipo de tumor, para uma possível gestação futura.”
Vale lembrar que os procedimentos para preservação de fertilidade não aumentam o risco de recidiva do tumor nem impactam na agressividade da doença. Hoje, dá para fazê-los de forma mais rápida para não atrasar o tratamento da doença.