VIOLÊNCIA

STF decide que Estado deve indenizar vítimas de bala perdida em operações policiais

O STF decidiu que o Estado brasileiro deve ser responsabilizado, na esfera cível, pela morte ou ferimento de vítimas de balas perdidas decorrentes de operações de segurança pública

Por Constança Rezende | 11/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min
da Folhapress

Pixabay

Perícia inconclusiva sobre a origem do disparo fatal durante operações não é suficiente por si para afastar a responsabilidade civil do Estado
Perícia inconclusiva sobre a origem do disparo fatal durante operações não é suficiente por si para afastar a responsabilidade civil do Estado

O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu, nesta quinta-feira (11), que o Estado brasileiro deve ser responsabilizado, na esfera cível, pela morte ou ferimento de vítimas de balas perdidas decorrentes de operações de segurança pública.

A corte também definiu que a perícia inconclusiva sobre a origem do disparo fatal durante operações não é suficiente por si para afastar a responsabilidade civil do Estado.

A decisão prevê que o ente federativo deve apresentar provas em situações eventuais que não se incluem na responsabilidade civil.

A decisão foi tomada em um processo de repercussão geral, quando o julgamento de um caso incide em todos os processos relacionados ao tema no país.

No caso específico, o STF havia decidido que a União deveria ser responsabilizada pela morte de uma vítima de bala perdida disparada durante operação militar realizada no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, em 2015.

Na ocasião, houve um tiroteio entre traficantes e militares do Exército, que à época ocupavam o Complexo da Maré.

A família pedia que a União e o governo do Rio de Janeiro pague uma indenização por danos morais, uma pensão vitalícia e despesas funerárias.

Os ministros já haviam decidido que a família da vítima deveria receber indenização, no mês passado, mas ainda precisavam definir a tese geral para outros processos relacionados.

O julgamento começou no plenário virtual, mas foi transferido para o físico para que os ministros formulassem o consenso.

O presidente da corte, ministro Luís Roberto Barroso, destacou que um dos pontos em aberto era que, às vezes, não se é capaz de determinar de onde veio o tiro, mas ficou definido que, se estiver havendo uma operação policial no local, há responsabilidade do Estado.

"Frequentemente, a perícia é capaz de determinar esta questão. Dentre outras coisas, por uma razão muito triste, a de que com muita frequência o armamento do crime é mais poderoso do que o da polícia, sobretudo pelo uso de fuzil, infelizmente", afirmou.

Já o ministro Edson Fachin, relator do caso, afirmou que a atividade da perícia é fundamental para que se possa apurar a realidade dos fatos e para trazer elementos suficientemente probatórios. Ele disse que, por isso, a tese firmada fixou que a perícia inconclusiva é um elemento indiciário e não tem força como prova por si só.

"Isso significa que especialmente os estados devem ter um aparato técnico e de recursos humanos, com autonomia administrativa e financeira, para realizar estas perícias. Em alguns, infelizmente, esta situação é inexistente", afirmou.

O ministro Flávio Dino destacou que a decisão do Supremo "é de altíssima relevância" porque estimula um planejamento adequado das autoridades públicas para que o tiro a esmo não seja um método rotineiro.

Ele também destacou que dados do Rio de Janeiro do ano passado comprovam que não há relação de causa e efeito "que alguns demagogicamente querem fazer crer" que uma polícia mais forte ou violenta é mais eficaz.

"Isto é pura demagogia contra vítimas inocentes. As balas perdidas são inadmissíveis porque elas não são perdidas, elas acham sempre os mesmos. Tiros de fuzis também atravessam paredes de casas, sobretudo, de moradias mais precarizadas, infelizmente", disse.

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