OPINIÃO

Quais são os limites do humor? E da liberdade de expressão?

Por Wellington Anselmo Martins | 31/03/2023 | Tempo de leitura: 2 min

O autor é doutorando em Educação Para a Ciência, tem mestrados em Filosofia e Comunicação, especializações em Psicanálise e História, graduações em Pedagogia e Filosofia

O bullying, o assédio e a intolerância devem ser combatidos nas escolas (de educação básica e superior), nas empresas e na sociedade de modo geral. Em um Estado Democrático de Direito, não pode haver tolerância com os intolerantes (cf. Karl Popper. 'A sociedade aberta e seus inimigos').

Os intolerantes, motivados por ignorância, extremismo político ou fanatismo religioso, propagam preconceitos, difamam e perseguem determinadas pessoas ou grupos sociais. Antes de chegar à violência física, é comum que o intolerante pratique formas de violência simbólica, com o uso de piadas, fofocas e discursos de ódio (cf. Slavoj Zizek. Violência). Nestes casos, não se trata de liberdade de expressão, no sentido democrático, mas exatamente do oposto. São falas e ações autoritárias e, exatamente por isso, devem ser coibidas ou punidas.

O caso ocorrido recentemente em Bauru, no qual uma universitária de mais de 40 anos de idade sofreu com a zombação pública de colegas mais jovens, exemplifica o menosprezo e a exclusão que existem contra determinados grupos de pessoas. Nesta ocorrência de etarismo, que é o preconceito por idade, o humor foi o instrumento empregado. Porém, em mais de 70 mil casos anuais registrados no Brasil (dados de 2019, do Disque 100), os idosos são vítimas de diversos tipos de violência, inclusive física. Isto demonstra o quanto o homem é um ser com notável potencial para a violência.

Porém, muitas outras ações sociais comprovam, igualmente, a possibilidade humana de dar respeito aos seus semelhantes. Por isso, para estimular este potencial fraterno, o ser humano - especialmente os mais jovens - precisa aprender, cada vez mais, a administrar a liberdade em meio à disciplina, a desenvolver a personalidade junto da intersubjetividade, a cultivar o respeito a si próprio como medida para o respeito ao outro. É para a efetivação deste projeto que a complexa sociedade atual está baseada em instituições complementares, como a escola (Universidade) e o Judiciário. O ensino formal e as leis coexistem, em países democráticos, para garantir e estimular a liberdade de expressão enquanto, ao mesmo tempo, coíbem os abusos desta mesma liberdade.

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