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MAIS QUE UMA SOPA
Canja clássica
Se é verdade que a voz do povo é a voz de Deus, a canja de galinha é mais que uma deliciosa sopa, é um remédio que restaura forças e até cura algumas doenças do tipo saudade, tristeza, melancolia.
Por Sonia Machiavelli | 24/07/2021 | Tempo de leitura: 4 min
da Redação
Dirceu Garcia/GCN
Ingredientes
(Para quatro pessoas)
- 1 peito de frango
- 4 colheres (sopa) de azeite
- 1 cebola média ralada
- 1 dente de alho bem amassado
- 2 xícaras (chá) de cenoura em rodelas
- 2 xícaras (chá) de aipo em rodelas
- 2 batatas médias em cubos
- ½ xícara (chá) de arroz cru
- 2 colheres (sopa) de salsinha picada
- Sal a gosto
- Pimenta-do-reino a gosto
- 1 colher (chá) de cúrcuma (ou açafrão-da-serra)
Se é verdade que a voz do povo é a voz de Deus, a canja de galinha é mais que uma deliciosa sopa, é um remédio que restaura forças e até cura algumas doenças do tipo saudade, tristeza, melancolia. Desde que eu me entendo por gente, ouço dizer que é ótima solução para restaurar as forças dos adoentados ou, simplesmente, para revigorar os que não estão enfermos mas simplesmente necessitam de comidinha do tipo “confort food”, ou “com cara de mãe”. Na culinária brasileira nada é mais parecido com mãe do que um prato fumegante com caldo cheiroso onde flutuam rodelinhas de cenoura, pequenos cubos de batata, rodelas de aipo e no meio de tudo um arroz tão cozido que parece derreter-se.
Tamanha é a fama da canja que a Rede Globo de Televisão, através do programa Fantástico, exibiu há muito tempo matéria para comprovar se a canja tem mesmo poderes terapêuticos. Não me lembro se encontraram bases científicas que pudessem comprovar o efeito benéfico, mas recordo que falaram de um mágico efeito regenerativo. De minha parte não tenho dúvidas: a canja de galinha é uma poção mágica para vários males.
Amo canja, mas tem de ser canja verdadeira. Ela nem tem tantos ingredientes, mas devem ser frescos e ter cortes exatos. Abobrinha, chuchu, couve-flor, repolho, brócolis, tomates, mandioca, mandioquinha- nada disso entra em canja, caso contrário ela vira sopa de legumes. Seu ponto forte é o caldo de frango, que se puder ser feito com a ave inteira, se transforma em banquete. Mas, se não for possível, use o peito, e é o que a maioria faz. Cenoura, em rodelas e não palitos. Batatas, em cubos. Aipo em meia-luas. Assim, a canja não vai ficar descaracterizada e lembrará sempre a sua origem, que é asiática. Como se sabe disso?
Primeiro pelo nome, que é do vocabulário malaio. Segundo, porque um certo Garcia da Orta ( sem agá, mesmo) médico da Corte e naturalista português, introduziu o termo no seu livro “Colóquios dos Simples e Drogas e Coisas Medicinais da Índia”. Numa das páginas ele se refere a um certo “caldo de arroz ou Kanji”, que havia degustado na Costa de Malabar, porto de Calicute onde aportou o navegador Vasco da Gama em 1492.
Não se tem certeza se já havia frango nesse caldo ou se os portugueses o acrescentaram depois. O que se sabe mesmo é que todos os Bragança gostavam muito de canja. Contam os cronistas de antanho que na cozinha do Palácio da Ajuda havia sempre canja fresca para a Rainha, que acreditava ser aquele prato fundamental para a manutenção da saúde. Para a física é possível; para a mental provavelmente não, pois mesmo tomando canja todos os dias, Dona Maria, quando chegou ao Brasil em 1808, fugida de Napoleão Bonaparte, já era chamada “A Louca.”
Seu filho, Pedro I, também apreciava. Mas foi seu neto, Pedro II, que a tornou notável, pois segundo relato de J.A. Dias Lopes, os historiadores do período comentavam, e até os jornais noticiavam, que o monarca “fazia questão de saborear uma canja quente entre o segundo e o terceiro atos quando ia ao teatro.” Quando faltavam galinhas, os cozinheiros apelavam para o macuco, uma ave nativa parecida a um frango.
Quanto a nós deste século XXI, frango é o que não falta. Então vamos lá. Limpe o peito e reserve. Coloque o azeite numa panela média e frite o alho até dourar. Junte a cebola e em seguida o peito. Salgue e apimente. Agregue a cúrcuma, para conferir uma cor bonita ao caldo. Cubra com água e deixe cozinhar meia hora com a panela tampada. Findo este tempo retire o frango, deixe amornar e depois desfie grosseiramente. No caldo da panela junte as cenouras, as batatas, o aipo, o arroz. Se houver necessidade acrescente mais água. Baixe o fogo e deixe tudo cozinhar até ficar bem macio, inclusive os grãos do arroz. Acerte o sal e a pimenta, se gostar. Quando estiver no ponto, junte o frango desfiado. Antes de levar à mesa, salpique cheiro verde picado.
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