
Em tempos de relacionamentos efêmeros, chega a ser estranho saber que duas pessoas estão juntas e continuam a se sentir enamoradas por décadas e décadas a fio. Exemplos para aqueles que acreditam que um namoro pode, sim, se tornar um compromisso saudável, prazeroso e duradouro, casais na terceira idade dão algumas sugestões de como isso é possível a partir de suas próprias histórias - nem sempre feitas apenas de alegrias, mas superadas graças ao amor.
Em comemoração ao Dia dos Namorados - comemorado na próxima quinta, 12 de junho, data criada no Brasil para homenagear o frei português Fernando de Bulhões, o Santo Antônio, que em suas pregações religiosas destacava a importância do amor e do casamento - o Estilo conversou com casais, em Jundiaí, que encontraram no amor do outro - e para o outro - o esteio de suas vidas.
Nelly Quito Leite, de 79 anos, e Mário Rodrigues Leite, 83 anos, estão casados há 60 anos. Não deixam de dar presentes um para o outro, ainda que não haja uma data especial. As pequenas gentilezas já fazem parte da rotina do casal. Flores retiradas do jardim no meio do dia e oferecidas à esposa são algumas delas, assim como lembranças trocadas para cada ano de casados. O último, inclusive, que Nelly recebeu recebeu foi um belo buquê de flores e a troca de alianças - prova de que é possível manter a chama de um amor de verdade acesa, mesmo depois de seis décadas.
“Não adianta a pessoa dar um presentão se não souber se respeitar e respeitar o outro. O homem e a mulher têm que ser um só e conversar sempre que tiverem um problema”, reforça seu Mário que, no caso de um desentendimento, sabe como agir, mas quem explica é dona Nelly: “Se estamos magoados um com o outro, esperamos passar para depois conversarmos. Isso evita maiores brigas”, comenta dona Nelly.
Antônio de Barros Leite Junior, 77 anos, e Zelinda Furlan de Barros Leite, 78, também concordam que o respeito é essencial. Mesmo com a chegada dos filhos e netos, não pode haver descuido entre os dois, ensinam.
“Infelizmente, os namorados não se toleram e não têm muita paciência um com o outro. Eles se esquecem de que é preciso tolerância e amor para que a relação dure”, comenta seu Antônio - ou “Toninho da Farmácia”, como é conhecido.
O namoro de Zelinda e Antônio durou quatro anos. Ele conta que foi amor à primeira vista. O pedido de namoro foi feito para os pais e não demorou para que decidiram se casar. Juntos há 54 anos, eles sabem que um bom relacionamento está regado a conversas e cumplicidade, e ao mesmo tempo carinho pelo companheiro.
Com uma família formada por três filhas, seis netos e dois bisnetos, o casal é referência para quem deseja e acredita em um amor eterno. “Não é fácil manter uma relação, principalmente quando se está casado, mas quando se acredita em Deus e na família, tudo fica mais fácil”, completa dona Zelinda.
Novo amor e sexo
Na maturidade, o amor é vivido sem pressa, afobação ou dúvidas. Segundo a psicóloga e sexóloga Ana Canosa, autora do livro “A metade da laranja? Discutindo amor, sexo e relacionamento”, o importante é respeitar a maneira como cada um leva a vida, mesmo que seja um amor novo que aparece nesta fase.
“O amor maduro respeita os limites e não sobrevive por aparências ou tradição. As pessoas são mais realistas sobre o que esperar de cada um e podem estabelecer novas propostas, na maneira de experimentar experiências, de viver os momentos de lazer, de estar em família.”
Quando se fala em sexo, é interessante lembrar que homens e mulheres passam por mudanças quanto à resposta sexual, mas isso não significa que devem abdicar dos prazeres. “O corpo e a mente mudam, mas com consciência, flexibilidade e abertura para o que a medicina e a sexologia podem disponibilizar para ajudar, qualquer casal na maturidade pode ter uma vida plena de amor e prazer”, garante.
Ana Canosa reforça que manter - ou ter um novo - relacionamento na terceira idade é não apenas revigorante mas também uma forma de manutenção do papel de homem e mulher que se constrói durante a vida. “O casal não deve se sentir apenas no papel de mãe, pai, avó ou avô. Compartilhar as conquistas, dividir os desafios, os medos e descobrir novas possibilidades e maneiras de viver, além de formas de desfrutar o prazer, são importantes nesta fase.”