OPINIÃO

O tempo do céu


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A moça, como outras companheiras suas, vieram até a Pastoral/Magdala para o almoço. Foram os primeiros laços. Década de 90. Gostaram de saber que, em meio a olhares de desaprovação na praça, havia um local que possuía como proposta acolher mulheres em situação de vulnerabilidade social.

Anos de presenças e ausências da moça, mas sempre com um carinho por nós, que integramos o projeto. Acréscimo para os agentes. Sempre coerente e profunda em suas reflexões a partir da Palavra de Deus. Um respeito imenso pelo Sagrado.

Nas festividades, vinham também com ela os familiares, incluindo os netos. Percebia-se que, para ela, aquele era o mundo que desejava para os seus.

Em janeiro de 2022, recebeu das mãos do Padre Márcio Felipe de Souza Alves, Assessor Espiritual da Pastoral/ Magdala, a Eucaristia, após ser ouvida por ele na consciência de sua história e de sua escolha pela vida eterna.

Atualmente, não mora mais em Jundiaí. Conversamos via WhatsApp ou através do Facebook. No final de abril, enfartou. Ficou bastante debilitada. Possuía comorbidades anteriores. Passou alguns dias hospitalizada.

Nos momentos de pedir a intercessão junto a Deus, solicita de imediato que seja através das Monjas do Carmelo São José e do Padre Márcio Felipe, além da Pastoral da Mulher/ Magdala, logicamente. Criou vínculos com eles em sua experiência de Deus.

Saturação caindo no pronto-socorro. Transferência para um hospital adequado. Desta vez a situação foi tão grave, que o médico responsável liberou a visita para os filhos e netos, afirmando que poderia não passar daquela noite. A filha me respondeu a mensagem dirigida à mãe, sobre ela não estar bem. Teve alta de manhã e à tarde retornou ao hospital. Quando entrou para vê-la, parecia não ter mais consciência de nada. Fez cateterismo. Comentaram que se desejassem poderiam levá-la para as despedidas em casa. Teve uma hemorragia após o cateterismo. À meia noite, pressão 6X3 e batimentos 45, mantida sob o uso de drogas fortíssimas. Coração muito fraco. Optaram para que permanecesse.

Dia oito de maio, sem ânimo para nada, cansadíssima, observava a TV, sem atenção, quando viu a fumaça branca saindo da chaminé da Capela Sistina no Vaticano, encerrado o conclave. Entendeu que o novo Papa fora escolhido e, para isso, que o Céu baixava à Terra. Deus estava ali. Pouco depois, viu o Papa Leão XIV. Teve uma fé imensa, como ela diz.

Toda cheia de fios, com bolsa de sangue, não conseguia falar, mas estava lúcida. Pediu a intercessão dele e de seu antecessor, Papa Francisco, para que dessem sabedoria aos médicos. Embora imóvel, encheu-se de esperança.

No dia seguinte, tiraram-lhe a bolsa de sangue, o cateter, conseguiu respirar e sua pressão subiu. Em meados de maio, teve alta. Voltamos a dialogar. Comenta sobre a luta que era para respirar e comer. A canseira atual a impede de realizar tarefas simples, mas o que a sustenta é ter recebido a graça de Deus no momento da “fumaça branca”.

Como escreveu o Padre Márcio Felipe a ela: “Tudo é um sinal de Deus. Deus que tanto te ama e ama porque seu testemunho é capaz de tocar o nosso coração e para que nós sempre mantenhamos os nossos olhos fixos em Jesus na cruz d’Ele, que é sinal de salvação”.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

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