Quando eu era criança, afortunadamente passava as férias no pequeno sítio de meus avós maternos, na cidade de Conchas, interior de São Paulo. Eu e minhas primas, com idades que variavam entre dez e oito anos, corríamos livremente entre patos, galinhas, cachorros. Nos aventurávamos pelo espaço que nos parecia um mundo esperando para ser explorado. Brincadeiras ao ar livre. Visitas e banhos escondidos no “poço encantado”, ladeado pela vegetação imaculada, por onde atravessavam raios de sol, dando tons coloridos e diferenciados na água cristalina da nascente.
Num desses passeios exploratórios, longe da vista dos adultos, demos de cara com muitas vacas. Ingenuamente, com medo, começamos a correr da manada que nos seguia velozmente, a poucos metros atrás do pequeno grupo, até que finalmente, exaustas, alcançamos e atravessamos a cerca de arame farpado, salvas do ataque do gado.
Nos dias de hoje é pouco provável que as pessoas, mesmo que visitem fazendas, tenham a possibilidade de ver uma vaca brava no pasto, líder, à frente de muitas outras que as seguem às cegas, correndo desenfreadamente.
A experiência inesquecível me faz traçar uma analogia ao que acontece com as pessoas quando estão sob pressão. Há uma célebre expressão denominada “efeito manada”, criada pelo economista britânico John Maynard Keynes, na década de 30, para explicar o comportamento dos investidores no mercado financeiro. Ele investigou como os agentes econômicos tomam decisões não com base em valores reais, mas sim no que acham que os outros acham. Baseadas no comportamento da maioria ou no que elas acreditam que "o mercado" vai fazer.
“O efeito manada é um fenômeno psicológico e social no qual os indivíduos tomam decisões ou adotam comportamentos com base nas ações de um grupo, muitas vezes ignorando suas próprias percepções, crenças ou análises racionais. Em vez de pensar criticamente ou agir com autonomia, a pessoa segue a maioria, movida por fatores emocionais como medo, desejo de pertencimento, segurança ou aprovação social” (Wikipedia).
A sociedade é pressionada a todo instante por estímulos diversos. Temos as redes sociais, tomadas por inúmeros “influencers” ditando comportamentos, o você deve fazer, comprar, votar, como se vestir e por aí afora. O pensamento crítico, reflexivo, é deixado de lado. As convicções pessoais cedem à pressão social, mesmo que o indivíduo possa ser prejudicado. Seguem a onda do que está viralizando, ou sobre o que se está falando, mesmo que seja um produto duvidoso e que ninguém saiba ao certo se funciona, ou uma mentira travestida de verdade. A manada corre atrás.
O comportamento humano, diante da pressão social, tende a abandonar a sua percepção de realidade para seguir a maioria. Esse fenômeno chamado "conformidade social” foi estudado por Solomon Asch em 1951, no Experimento da Linha.
Por que isso acontece?
O ser humano é naturalmente um ser social com necessidade e desejo de pertencimento. Não pode correr o risco da rejeição. O cérebro interpreta como uma ameaça. A obediência cega muitas vezes é mais confortável do que o enfrentamento.
Em ambientes hierarquizados ou hostis, como empresas com lideranças autoritárias ou culturas de silenciamento, falar o que se pensa pode custar caro. Muitos preferem calar-se ou concordar por autoproteção.
E você? O que acha? Até onde a insensatez humana pode chegar?
Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora (rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)