A Academia Brasileira de Letras foi inspirada na Academia Francesa, criada pelo Cardeal Richelieu. E não admitia mulheres em seu quadro, assim como a instituição gaulesa. Foi por isso que Júlia Lopes de Almeida, como era conhecida Júlia Valentim da Silveira Lopes de Almeida (1862-1934), embora fosse escritora consagrada, não conseguiu figurar como uma das fundadoras, no recrutamento feito por Machado de Assis.
Como compensação, escolheu-se Filinto de Almeida, ou Francisco Filinto de Almeida (1857-1945), que era seu marido. A exclusão da mulher, muito mais famosa, foi considerada evidente injustiça, dado o excepcional valor da contista. O assunto foi veiculado durante bom tempo nas rodas acadêmicas. Tanto que Humberto de Campos Veras (1886-1934), dizia, jocosamente, que “O Filinto é, assim, um acadêmico consorte!”.
Na verdade, se Filinto não era um poeta que pudesse ombrear com Olavo Bilac, Alberto de Oliveira ou Raimundo Correia, pertencia à mesma geração acadêmica de Valentim Magalhães, Pedro Rabelo e Urbano Duarte. Também era excelente cronista e um dos traços mais simpáticos e mais nobres de sua personalidade, era o reconhecimento dos superiores méritos de Júlia:
- “Não era eu quem devia estar na Academia, era ela!”.
Se isso ocorreu na Academia Brasileira de Letras, que acaba de eleger sua décima segunda mulher, a jornalista Miriam Leitão, não foi o que aconteceu na Academia Paulista de Letras.
Aqui, Presciliana Duarte de Almeida (1867-1944), poetisa, feminista e diretora da revista “A Mensageira” foi uma das fundadoras da APL. Era sobrinha-neta do poeta da Inconfidência Mineira e bisneta de Bárbara Heliodora, que escolheu para patrona da Cadeira 8.
Em seguida vieram Maria de Lourdes Teixeira, a primeira mulher eleita, Myriam Ellis, Lygia Fagundes Telles, Anna Maria Martins, Ada Pellegrini Grinover, Renata Pallottini, Ruth Guimarães, Inezita Barroso, Tatiana Belinky, Esther de Figueiredo Ferraz, Ruth Rocha, Betty Millan, Mary Del Priore, Djamila Ribeiro e Angelita Gama.
A Academia Paulista de Letras tem muito orgulho em contar com mulheres talentosas, dinâmicas, empreendedoras, que somam ao lado dos confrades e tornam o ambiente acadêmico mais colorido, rico e acolhedor. Elas produzem a movimentação da APL em permanente diálogo com a comunidade. Mais sensíveis, sabem encontrar a melhor comunicação e manter aceso o interesse pela cultura literária a partir da mais tenra infância.
Uma jundiaiense que tentou ingressar na APL e, lamentavelmente, não conseguiu, foi Mariazinha Congilio, a generosa divulgadora de nossas coisas e de nossa gente. Mas conviveu ali e foi muito amiga de Lygia, de Ives, de Nico Penteado, de Paulo Bomfim e minha. E ali frequentava graças à presença de Geraldo de Camargo Vidigal, seu marido.
Outra que entraria, mas não houve tempo, foi a querida Sônia Cintra. Ambas tinham todos os atributos para serem eleitas imortais paulistas. De qualquer forma, têm o seu lugar na História da Cultura Jundiaiense, Paulista e Brasileira. Seus feitos as credenciam a tanto.
Hoje, as Academias Jundiaienses são operosas e têm mulheres ativas e partícipes de tudo o que de melhor acontece em nossa cidade. As Academias são fonte de vida cultural, estimulam a leitura e as atividades artísticas e apuram o comportamento social, o que não é pouco em nossa era polarizada e de hábitos pouco éticos e rudes.
Prestigiemos as Academias e abramos suas portas, cada vez mais, para as mulheres. Elas merecem e fazem jus a essa glória.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)