OPINIÃO

O Papa da ternura


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Em momento algum estive em sua presença, mas o sentia tão próximo! Em sua primeira entrevista sobre a partida do Papa, ao Padre Sílvio Andrei, nosso Bispo Diocesano, Dom Arnaldo comentou sobre esse convívio com ele: permitia-se ser tocado. E por seus olhos repletos de ternura, além dos que tinham o privilégio de se avistar com ele, sentia-o também comigo.

Ao saber do acontecido, experimentei uma mistura de emoções. No sábado, na Vigília Pascal no Carmelo São José, nosso Bispo Emérito, Dom Vicente, disse dos cinco sinais para encontrar o Cristo Ressuscitado: o fogo, a luz, a Palavra, a água (Batismo) e a Eucaristia. Fiquei pensando na forma como ele falou do fogo novo, para fazer arder o nosso coração com Jesus, conforme aconteceu com os discípulos de Emaús, e querer, cada vez mais anunciá-Lo e desejar a santidade. No domingo, o Padre Márcio Felipe, do Santuário Santa Rita de Cássia, em sua belíssima homilia, convidou-nos a subir com nossa cruz à Cruz de Jesus e com Ele ficar para experimentarmos a Eternidade, na certeza de que Deus cumpre o que promete e Sua mão é para nos levantar e não para nos julgar.

Francisco era assim, luziam seu coração e seus olhos ao falar de Jesus. Assumia sua cruz pessoal e a cruz do mundo, levando-nos a Jesus para nos oferecer o Céu. Jamais esqueceremos, em tempo de pandemia da Covid, março de 2020, com a praça São Pedro vazia, rezando pela humanidade. Na época, relembrou a passagem em que Jesus acalmou a tempestade. Palavras dele naquele dia: “Na sua cruz, fomos salvos para acolher a esperança e deixar que seja ela a fortalecer e sustentar todas as medidas e estradas que nos possam ajudar a salvaguardar-nos e a salvaguardar. Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança. Aqui está a força da fé, que liberta do medo e dá esperança”.

Não posso deixar de destacar a luta do Papa contra abusadores de crianças e adolescentes. Participei de dois seminários on-line da “Pontificia Commisio Pro Tutela Minorum”, do Vaticano, sobre a pedofilia na Igreja. Para o Papa, o enfrentamento dos casos seria com tolerância zero, mesmo que não houvesse contato físico. A Comissão, na cultura da cura, destacou também a necessidade de acreditar na vítima, escutá-la sem autodefesa, cuidar tantos dos menores como de suas famílias e vencer o risco de encobrir a situação, pois os abusadores são hábeis em negar a evidência.

Creio que, no final do ano passado, li que, neste aspecto, que o Papa Francisco conseguiu trazer à tona o assunto, mas não atingiu em totalidade seu objetivo, pois foi, de certa forma, “boicotado” por Sacerdotes (graças a Deus são minoria), que protegem pedófilos, não dão crédito a denúncias e ainda podem atuar em projetos ligados à proteção de menores. São os capazes de qualquer coisas para não perder o seu cargo. São ou foram os inimigos de um Papa pelo qual o povo chora. Continuaremos, porém, insistindo, pois como ele disse: não podemos estacionar nosso coração, temos de correr.

Gratidão, Papa Francisco, pelo anúncio, com suas palavras e atitudes que Jesus está conosco.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

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