OPINIÃO

Trump e US$ 1 trilhão em produtos da Ásia


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Os primeiros dias de abril entrarão para a história como uns dos mais turbulentos dos mercados financeiros mundiais. Apenas entre 1/4 e 8/4, calcula-se que as 500 maiores empresas norte-americanas perderam US$ 8 trilhões em valor de mercado, o que equivale a três vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. É uma destruição de riqueza em níveis poucas vezes vistos – lembrando que neste resultado nem estão contabilizadas as perdas ocorridas em outros países.

A imposição generalizada de tarifas de importação por parte dos Estados Unidos, com avanços e recuos do governo, trouxe tanta incerteza sobre o cenário global que até os títulos do tesouro americano entraram em liquidação. Algo bastante incomum para um papel sempre visto como o porto seguro mundial dos investimentos.

Esta parece ter sido a senha para o presidente Donald Trump anunciar uma pausa de 90 dias nas chamadas tarifas recíprocas para países que não revidaram a política de encarecer as importações adotada pelo governo dos EUA. Com isso, os percentuais de 10% passaram a vigorar para todos.

A China, porém, devido aos sucessivos aumentos de tarifas na guerra em curso com os EUA, encerrou a semana levando um imposto de importação 145%. E os americanos receberam uma tarifa de 125% dos chineses.

A implosão por Trump do sistema de relações e trocas comerciais construído ao longo dos últimos 80 anos sob a liderança dos próprios EUA marcará profundamente a geopolítica mundial. Tradicionais parceiros dos americanos estão deixando de ver o país como um aliado confiável.

O Brasil, embora menos afetado neste primeiro momento, também está sujeito à incerteza dominante e às turbulências globais. Segundo cálculos da Fiesp, países asiáticos como China, Coreia do Sul e Vietnã têm o equivalente a 1 US$ trilhão em bens para serem aportados em algum lugar do planeta.

Com o acesso mais restrito ao mercado norte-americano, esses bens estão à procura de novos portos e o Brasil, por seu porte e população, desponta como um destino atraente para esses produtos industriais.

Diante deste excedente de produção internacional, urge estarmos muito atentos à disputa do mercado interno brasileiro. Nossos mecanismos de defesa comercial precisam estar afiados para evitar a concorrência desleal, o dumping e a entrada de mercadorias por mecanismos ilícitos. Uma fiscalização eficiente será mais necessária do que nunca.

A curto prazo, o agronegócio nacional poderá se beneficiar da guerra tarifária entre EUA e China, vendendo para os chineses produtos agrícolas antes comercializados pelos americanos. Porém, se o mundo entrar em uma espiral negativa as consequências serão nefastas para todos. A queda no preço das commodities verificada nos últimos dias é um sinal amarelo.

Para a economia norte-americana, o consenso dos especialistas é de que, com produtos mais caros nas prateleiras, a inflação subirá. Da mesma forma, dificilmente as pretensões de Donald Trump, de trazer as fábricas e os empregos industriais de volta aos EUA, serão cumpridas, dado que o mundo mudou.

O certo é que, acostumados a mercadorias baratas, os americanos verão preços inéditos. Por exemplo: calcula-se que pode até triplicar o montante cobrado pelo iPhone, que é basicamente confeccionado na Ásia e hoje custa em torno de US$ 1 mil nos EUA. Assustados, nos últimos dias, os americanos correram às lojas para trocar de aparelho.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)

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