OPINIÃO

Antes que eu me esqueça


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O envelhecimento é um processo natural e a alternativa aparentemente mais benéfica do que a morte precoce. Nem todos envelhecem da mesma forma. Algo que atormenta grande parte das pessoas que ainda pensam é a possibilidade de contraírem alguma anomalia mental que reduza a qualidade existencial.

O mal de Alzheimer apavora, assim como outras espécies de demência. É evidente que o excesso de informação, que torna difícil a retenção daquilo que vale a pena ser memorizado, tantos os dados que nos fustigam a cada instante, é uma das causas da espécie de torpor angustiante que acomete muita gente.

Uma grande massa não se preocupa com isso e vegeta. Sem problemas, cuidar do essencial. Não absorver a carga negativa das más notícias, das tragédias, da violência, da carestia, do aquecimento global e outras ameaças que põem a humanidade em estado de vigilância, na incerteza de que advirá o amanhã.

Lapsos repentinos de memória são comuns e podem ser aspecto natural do envelhecimento, ou sintoma de comprometimento cognitivo leve. A medicina está bem adiantada, mas não conseguiu vacina para o mal de Alzheimer, nem para o câncer. Afinal, a Terra tem um limite para o número de seus hóspedes. A solução natural é multiplicar as formas de seu esvaziamento.

Alguns segredos para a longevidade saudável têm sido propalados pela ciência e também pelos governos, pois o custo da manutenção de sistemas de saúde para problemas crônicos é cada vez maior. E o número dos que contribuem com a receita se reduz, enquanto a velhice tende a se tornar majoritária. Mercê das conquistas propiciadas pela ciência médica e indústria farmacêutica.

Dentre os conselhos veiculados pelos estudiosos, vale recordar que o exercício físico é fundamental. Aquilo que não se usa, perde-se. Cerca de trinta minutos diários é um bom começo. Mas se mexer é importante. Também fazer check-ups, exames médicos regulares. Monitorar a saúde é importante. Controlar a pressão arterial, os níveis de colesterol, quaisquer alterações no seu organismo.

Algo que nem sempre é levado a sério é o compromisso com o relacionamento social. Encontros, jantares, reuniões. Falar com os outros, é remédio. Não perder contatos. Conversar com amigos. Procurar conhecer outras pessoas. Tentar localizar aqueles amigos de infância, colegas de escola, cujo rumo se perdeu. Coisa boa é tentar se relacionar com pessoas de outros grupos, de outras opiniões, de outros ambientes. Isso faz com que a mente se adapte a novas realidades.

Ler cada vez mais. Os brasileiros estão deixando de ler. Com isso, perdendo a capacidade de falar, de raciocinar, de pensar. Quem não lê não tem vocabulário. Não sabe conversar. Ler tudo, não só aquilo que apetece, mas ler o que incomoda e causa desconforto.

Continuar a trabalhar. É um fenômeno melancólico a aposentadoria de jovens que depois não sabem o que fazer e mergulham em depressão. Quando se faz aquilo de que se gosta, o trabalho é um prazer, não um sacrifício. Outro santo remédio: estudar. Continuar a aprender. Dia em que nada se aprende é dia perdido.

Diminuir o consumo de álcool é recomendável, fazer refeições simples, observar a postura para não ficar com a “curvatura de velho”. Estar aberto aos jovens e às crianças, procurar compartilhar com eles a sua experiência de vida e manter hábitos de sono saudáveis.

Quem fizer tudo isso poderá evitar, ou ao menos retardar os efeitos do envelhecimento de consciência. Algo que ninguém quer para si.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

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