OPINIÃO

As escolhas que nos escolhem


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A vida é, essencialmente, uma sequência de escolhas. Algumas são rotineiras, quase automáticas: o que vestir, o que comer, qual caminho seguir até o trabalho. Outras, no entanto, têm um peso maior. São aquelas que silenciosamente moldam nossa história, determinam rumos, encerram ciclos e iniciam outros.

Escolher é, antes de tudo, um exercício de liberdade. É assumir a responsabilidade pelo próprio caminho, mesmo sem garantias. Porque toda escolha carrega uma renúncia — e essa talvez seja a parte mais difícil. Ao escolher um caminho, deixamos outros para trás. E embora seja tentador imaginar que seria possível ter tudo, viver plenamente exige foco, presença e decisão.

Vivemos em um tempo de muitas possibilidades. Isso pode ser maravilhoso, mas também paralisante. A abundância de opções, por vezes, nos mergulha em dúvidas, e a busca pela escolha “certa” se transforma em uma fonte de ansiedade. Esquecemos que não existe uma escolha perfeita — existe a que faz sentido hoje, com o que somos agora.

O problema é que fomos educados para pensar que escolher bem é escolher sem errar. Mas a vida real não funciona assim. Às vezes, é só no erro que se encontra o acerto. Errar faz parte do processo. É assim que se cresce, que se aprende, que se evolui. Escolhas não são apostas definitivas; elas podem ser revistas, repensadas, reconstruídas.

E há também aquelas escolhas silenciosas, que parecem pequenas, mas que com o tempo revelam seu impacto: a escolha de ser gentil, de escutar mais do que falar, de se afastar do que machuca, de cultivar o que faz bem. São essas escolhas diárias, quase invisíveis, que sustentam a nossa trajetória.

Escolher exige coragem. Exige olhar para dentro, entender o que se quer de verdade, e não apenas o que esperam de nós. Exige maturidade para lidar com os desdobramentos e, às vezes, para aceitar que, mesmo com tudo planejado, a vida pode nos levar por outros caminhos.

No fim, talvez não sejam apenas as escolhas que fazemos que nos definem — mas também como convivemos com elas. A paz não está em sempre acertar, mas em sermos fiéis ao que sentimos no momento em que decidimos. E se for preciso, sempre é possível escolher de novo.

Micéia Lima Izidoro é professora, psicopedagoga e pós-graduanda em neuropsicopedagogia clínica (miceialimaizidoro@gmail.com)

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