OPINIÃO

Mulheres maravilhas


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Março me sensibiliza. Existem várias questões mais místicas, eu diria, já que a Quaresma mexe com nosso espírito, sendo cristão ou não. É um período, ou deveria ser, mais reflexivo. Mas tem a questão das homenagens às mulheres e como somos todas nós filhas, mães, profissionais, esposas e parceiras, tudo que nos toca em março, toca mais fundo. 

Por ser mãe de dois adultos, um casal, observo sempre a reação deles em relação à vida e me maravilho. Tenho jovens jornalistas sob minha direção, mais filhas de amigas, entrevistadas mais jovens que passam semanalmente no podcast e eu as admiro! Sabe por quê? Porque escuto coisas que eram impensáveis de se refletir quando eu era jovem, que ninguém identificava, não falava e, quando a gente não reflete, não resolve. 

Vou dar um exemplo. Entrevistei semana passada Idelma Bocalon, moça de 43 anos, há dez anos lutando pós-câncer de mama. Ela tem brilho nos olhos e quando alguém diz que o marido, político influente, a apoiou nesta luta inglória, ela amarra a cara e diz: “ué, mas não é obrigação? Por que um homem não pode cuidar de outra vida?” É triste dizer isto, mas ela teve sorte de ter ao lado dela um ser humano bondoso e participativo. Nem todas têm. E eu diria que não é a sorte que nos faz ser acompanhadas por parceiros maravilhosos, mas a falta de cultura e educação.

Minha filha mesmo me ensina diariamente. Já disse que vai se programar para ser mãe, dar um tempo na carreira para se dedicar a uma futura nova vida. E não aceita em hipótese alguma comentários machistas, posturas indelicadas no trabalho e sabe que o compliance está ao lado dela. “Essa história de mulher maravilha já era”, diz.

Outra amiga minha, reconhecida acupunturista, com milhares de formações, inclusive na China, fica intrigada quando outras mulheres apontam que ela só é bem-sucedida graças ao “apoio” do marido. Ora, foi exatamente ao contrário! Ele só pôde estar onde está graças ao trabalho muito bem remunerado dela e a dedicação aos filhos, além de ser a coach de carreira dele! E a nossa tristeza é que ele não desmente esta fala estúpida. 

Passamos por isso sempre. Mas as minhas mulheres-maravilhas não têm capa e espada não. São mulheres que me deram norte, formação, pedagogia, apoio psicológico e fé para seguir adiante em nossa atribulada vida de mulher. Começo por Mercedes Cruañes, escritora e professora de Letras, que me guiou no estudo da mediunidade, quando era moça ainda, de família espírita e sem conhecimento da moral além-túmulo. Mercedes, meu amor, foi uma querida, paciente e exigente professora. 

Josette Feres me ensinou piano, a amar, como educar meus filhos, como conviver com a dislexia e alta habilidade do primogênito, ensinava piano a Isadora com esta no colo. Escovava seus cabelos, quando ela estava mais agitada. Me ensinava a pedagogia diária de quem era cristã e amava acima de tudo. Me ensinou que a gente nunca critica um filho, sempre enaltece suas boas qualidades. Sua morte, para mim, calou o piano e a música em meu coração, só agora retomada aos poucos. Era minha amiga, a mãe que já não tinha, minha confidente, e eu também sua escuta, amiga dedicada e biógrafa. Quando sonho com a vida eterna, penso mesmo que estarei em seus braços um dia. 

Margareth Arilha, a psicanalista e Dra. da Unicamp, alta funcionária da ONU, sempre está aqui ao meu lado, me puxando as orelhas, não deixando que eu esmoreça no aperfeiçoamento da psiquê e alma. A monja Chime também me alerta sobre a necessidade da compaixão diária. Às vezes, misericórdia divina diante de tantos descalabros. 

Sou o que sou pelas mulheres da minha vida. Mãe, primas, tias, filhas e exemplos diários. Quando, no Egito, avistei Philae, a ilha da deusa Ísis, entendi porque me identifico tanto com as divindades femininas. São elas que nos acolhem, acalentam o coração e nos fazem persistir. Isadora, minha filha, você sempre será a dádiva de Ísis em minha vida. 

Para todas vocês, minhas leitoras, minhas reverências. E aos homens que também me leem e me agradam, muito obrigada. Também estou aqui por vocês, graças ao meu bondoso pai, meu filho honrado e ao parceiro - esse que me elogia, me suporta e me impulsiona diariamente. Que tenhamos uma vida de união e perseverança!

Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP e editora-chefe do Grupo JJ de Comunicação    

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