TRAGÉDIA NO MS

Noivo que matou jornalista fingiu ser ela em mensagens, diz irmão

Por Da redação | Campo Grande
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução / Redes Sociais
Vanessa Ricarte e o então noivo, Caio Nasciment
Vanessa Ricarte e o então noivo, Caio Nasciment

“A Vanessa faria aniversário dia 16 de fevereiro, vai ser um dia muito difícil porque era um dia que estaríamos comemorando o aniversário dela, de 43 anos”.

Clique aqui para fazer parte da comunidade de OVALE no WhatsApp e receber notícias em primeira mão. E clique aqui para participar também do canal de OVALE no WhatsApp.

A declaração é de Walker Diógenes, irmão da jornalista Vanessa Ricarte, morta pelo ex-noivo Caio Nascimento, em Campo Grande (MS), no fim da noite da última quarta-feira (12). A entrevista de Walker foi dada à repórter Cláudia Gaigher, e publicada na coluna da jornalista Mariana Kotscho, hospedada no portal UOL.

Segundo ele, o noivo fingiu ser Vanessa em mensagens trocadas com a família dela.

“Na última semana a Vanessa desapareceu, reduziu os contatos, o Caio se apossou do telefone dela e estava difícil a comunicação com ela. A gente achava que estava falando com ela, mas era ele que escrevia as mensagens. Ela conseguiu fugir e aí que ela pediu socorro para os meus pais.”

No início da semana, dia 12 de fevereiro, no final da manhã, a mãe de Vanessa recebeu uma ligação da filha pedindo ajuda porque estava decepcionada com o então noivo, Caio Nascimento.

Mais cedo naquele dia, segundo a repórter, o pai de Vanessa viu algumas mensagens do Caio no celular, mas as mensagens foram apagadas pelo futuro genro antes de serem lidas. O pai da Vanessa estava fazendo hemodiálise na cidade onde a família mora, em Três Lagoas, a 326 km de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.

O pai terminou a hemodiálise, voltou para casa e organizou com a mãe de Vanessa a viagem até a capital para acudir a filha. Não deu tempo.

Boletim de ocorrência.

Vanessa registrou um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher localizada na Casa da Mulher Brasileira, em Campo Grande. Pediu uma medida protetiva contra o agora ex-noivo Caio Nascimento.

Pelo relato do irmão dela, Vanessa nos últimos dias estaria em cárcere privado, impedida de sair de casa e coagida pelo companheiro. Ela conseguiu escapar e foi até a delegacia fazer a denúncia, pedir ajuda para se proteger das ameaças e para retirar os seus pertences da casa dela, onde o Caio permanecia e insistia que só sairia se a polícia o retirasse de lá.

Desde o início do relacionamento de Vanessa com Caio, a família achou estranho o comportamento possessivo dele. Mas diante da felicidade da filha, que dizia ter encontrado o ‘príncipe da vida dela’ e que era tratada como uma lady, todos aceitaram.

O relacionamento começou em agosto de 2024. As fotos mostravam o casal sorridente e aparentemente feliz. Até passaram as festas de fim de ano juntos na casa dos pais dela.

O Caio se esforçou para conquistar a família da jornalista. Hoje, o irmão de Vanessa revela que a tragédia trouxe à tona o relacionamento abusivo. Caio manipulou, ludibriou e enganou a todos.

Violência.

Dois meses depois de celebrar o Natal em família, a verdadeira face do músico que se dizia um “homem de Deus”, se revelou. Vanessa sofreu ameaças, foi impedida de sair de casa e viu o quanto Caio estava descontrolado. Decidiu romper o silêncio e o relacionamento e denunciar a violência. Mas nada a protegeu do trágico fim.

Vanessa revelou que Caio era dependente químico, usava cocaína e bebia muito. “Ficou 5 dias virado cheirando cocaína lá em casa, gastou mil reais com isso da minha conta. Foi esses últimos cinco dias. Ele falou que eu era garota de programa, atriz pornô”, contou Vanessa no áudio enviado para a amiga.

O irmão de Vanessa disse que, no dia em que foi morta, ela foi duas vezes à delegacia.

“O que a gente sabe é que ela foi na delegacia de madrugada, a medida protetiva foi decretada na parte da tarde, as 15 horas acredito. Foi quando ela voltou na delegacia para ver se o Caio tinha recebido a intimação. Foi nesta hora que minha irmã conversou com a delegada.”

Vanessa saiu da delegacia acompanhada de um amigo. Apesar da denúncia registrada, dos relatos da violência e ameaças que sofreu, a delegada a “aconselhou” a ir para casa. Não foi designada uma escolta policial para acompanhar a vítima para a retirada dos pertences pessoais.

Morte.

Horas depois, Vanessa foi esfaqueada pelo ex-noivo dentro da própria casa. Foram três facadas no tórax que atingiram o coração. Vanessa foi socorrida e levada para a Santa Casa de Campo Grande, mas não resistiu. Os pais dela que estavam na estrada, a caminho da capital, não encontraram a filha com vida.

O governo de Mato Grosso do Sul reconheceu a falha no atendimento e determinou uma sindicância para investigar a forma de tratamento dada à Vanessa na Delegacia da Mulher e ações para melhorar o atendimento ás mulheres vítimas de violência.

O caso repercutiu em todo o Brasil e o Ministério das Mulheres encaminhou um ofício à Corregedoria da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul pedindo uma investigação sobre o atendimento prestado à jornalista Vanessa Ricarte e enviou uma equipe ao estado para acompanhar a situação.

“O percurso não poderia ter ocorrido sem a escolta da Patrulha Maria da Penha, de acordo com o protocolo de avaliação de risco para mulheres em situação de violência que orienta o atendimento na Casa da Mulher Brasileira”, diz nota do Ministério.

* Com informações do UOL

Comentários

Comentários