OPINIÃO

Felicidade ou tristeza são impermanentes


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Daniel Uchôa é CEO da Workverse e discípulo budista Kadampa
Daniel Uchôa é CEO da Workverse e discípulo budista Kadampa

Como dizia o poeta, “Tristeza não tem fim, felicidade sim”. Isso indica que a experiência de uma mente autocentrada é da natureza do sofrimento. Experiência aqui é vida, vida de sofrimento. Nossa vida.

Se as fontes de felicidade que conhecemos fossem verdadeiras fontes de felicidade, elas nunca produziriam sofrimento. Mas não é assim que funciona. Se o chocolate fosse verdadeira fonte de felicidade, por exemplo, quanto mais comêssemos mais feliz seríamos. Mas não é isso que acontece. Uma curta sensação de felicidade rapidamente se transforma em sofrimento se aumentarmos a quantidade e frequência. 

E é assim para tudo aquilo que hoje achamos ser fonte de felicidade: parceiro (a), sexo, dinheiro, viagem, trabalho etc. Por outro lado, se pegarmos uma fonte de sofrimento, por exemplo martelar o dedo, ela nunca vai se transformar em fonte de felicidade. Quanto mais martelarmos, mais sofrimento teremos. Isso prova que a natureza da nossa experiência atual é sofrimento. Sempre converge para sofrimento.

De onde vem esse sofrimento? De ignorarmos a forma como as coisas existem na verdade, que é oposto à forma como elas aparecem. Não compreendemos a interdependência das coisas e nem o papel criativo da mente em tudo que existe. Saímos do autocentramento para servir os outros, e descobrimos a compaixão e a sabedoria. 

Felicidade e tristeza, ou sofrimento, são estados mentais, parte da mente. Logo, não podem ser encontrados fora da mente. Não podem ser encontrados em coisas externas, como comidas ou bebidas, sexo, pessoas, lugares, viagem, emprego, promoção, fama, poder, etc.

Projetar felicidade fora da mente, nessas coisas que achamos ser fonte de felicidade, é um grande engano. E assim, somos como viajantes no deserto, que se exaurem correndo atrás de miragens. Passamos a vida buscando, mas nunca encontrando real felicidade. Apenas alguns breves momentos de redução de sofrimento, que chamamos de felicidade.

O sofrimento aparece porque tem causas. Se retirarmos as causas, desaparecemos o sofrimento. Saber que as coisas dependem da mente para existir é maravilhoso, pois agora sim temos o que fazer de verdade: mudar nossos estados mentais. 

Podemos parar de nos identificar com um continuum de estados limitados, momentâneos, que surgem devido a experiências passadas, e que achamos ser nossa vida, nosso eu, nossos prazeres, nosso mundo, e nos identificarmos agora com o processo que está por detrás destes estados. Isso nos leva a incontáveis possibilidades de vida e existência. 

Saímos de alguns estados limitados para uma infinidade de possibilidades. E dentre essas, com sabedoria, podemos escolher a mais benéfica para nós e para os outros. Podemos então transformar nossa mente para percebermos um eu puro, com prazeres e atividades puras, seres puros, num mundo puro. Tudo isso ainda nessa curta vida. O que pode ser melhor do que isso?

Mas desculpe te dizer: sozinho, você não vai conseguir fazer isso. Da mesma forma que você não entraria numa savana na África sem um guia, você não deveria tentar desbravar o mundo interior sem um Guia. Isso pode ser perigoso. Encontre sua prática e avance sempre!

Daniel Uchôa é CEO da Workverse e discípulo budista Kadampa 

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