OPINIÃO

Leem mas não entendem


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De acordo com o Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, a taxa de analfabetismo no Brasil para pessoas com 15 anos ou mais é de 7%, o que corresponde a aproximadamente 11,4 milhões de brasileiros que não sabem ler e escrever. Entretanto, temos 29% da população brasileira entre 15 e 64 anos com dificuldade para compreender e interpretar textos simples, assim como realizar operações matemáticas básicas. 

Quero crer que é por este motivo que encontramos tantas pessoas que não entendem o que leem, ou pior, não passam da terceira linha de uma simples notícia. Aliado a este analfabetismo funcional, temos outro seríssimo problema adiante, que é a falta de concentração pelo uso excessivo de telas. Outro dia, lendo aqui mesmo o artigo do prof. Rafael Porcari, ele afirmou que em um futuro breve as partidas de futebol terão de ter menos de 90 minutos, já que os jovens não conseguem prender a atenção durante todo este tempo.

Também não sei quando as pessoas resolveram, sem pudor algum, dar sua opinião sobre tudo, mesmo sobre o que jamais se dedicaram a estudar. Ou pior, destilar seu ódio pelas redes sociais, sem vergonha alguma ou imaginando que, por trás das telas, não há fiscalização ou o rigor da lei. Ledo engano. Uma parte de nossa polícia está apta a descobrir a origem destas notícias falsas ou comentários infelizes e punir, ao rigor da lei existente, quem comete este crime.

Cresce cada vez mais pais responsáveis que não deixam seus filhos e filhas à mercê das telas, com pedófilos on-line ou pessoas de todos os tipos, ávidas por golpes. Adolescentes são os que mais me preocupam, dada a fragilidade comum a esta idade. Como mostrar a eles que o que se passa nas redes não têm, em absoluto, conexão com a realidade? Que a comparação é a pior das sensações nesta idade?

Outro dia, ao andar meus 8 km pelas ruas de meu bairro, ouvi o diálogo entre dois adolescentes. Um deles dizia assim: “Eu queria falar sobre meus sentimentos, as coisas que sinto, mas não encontro palavras certas.” O outro disse que ele também não entendia o que as pessoas queriam dizer. Tudo isso em um diálogo sem concordância. Nem verbal nem nominal. Muito menos de cidadania.

Faltam palavras para o nosso povo. Falta repertório. Educação de qualidade. Menos telas e mais livros. Música. A capacidade de se contrapor, com ideias elaboradas a partir da experiência. Em tempos de ignorância, o maniqueísmo entre o bem e o mal rege. Assim como na idade das trevas ou nos fanatismos religiosos assassinos.

Falar errado virou privilégio. Todo mundo - inclusive os políticos - se jubila em falar a língua que eles dizem ser do povo, atacando nossa língua portuguesa diariamente. Para as massas, o discurso de ódio pronto e raso. De uma massa que não pode pensar nem fiscalizar. Porque, para fiscalizar, é preciso ter formação sólida e rígida.

O que me alenta é a sabedoria destes rincões e a riqueza dos diversos sotaques e tradições regionais. Lá na Chapada dos Veadeiros, fui chamada de mulher farturenta (aquela que tem fartura). Levei isso para a vida. Que haja fartura de música, letras, dança e concordância neste meu povo brasileiro.  Porque não basta ler, é preciso interpretar.

Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP e editora-chefe do Grupo JJ de Comunicação.    

Comentários

1 Comentários

  • VIVALDO JOSE BRETERNITZ 17/02/2025
    Infelizmente, muito real. Sugiro dar uma olhada em https://jornalempresasenegocios.com.br/tecnologia/microsoft-estuda-impactos-da-ia-sobre-cognicao/ Sds