
Os moradores de Jundiaí enfrentam dificuldades para manter a despensa abastecida diante do aumento expressivo nos preços dos alimentos básicos. Em 2024, o custo da cesta com 12 produtos essenciais subiu 14,22%, passando de R$ 302,24 em dezembro de 2023 para R$ 345,23 no último mês, um quarto do salário mínimo. Na realidade dos mais de 40 mil moradores de Jundiaí em situação de vulnerabilidade, ou se paga aluguel ou se alimenta a família. A escolha é cruel e falar da falta de alimentos é vergonhoso para muitos deles.
Esta é a realidade de dona Márcia (não quis dar seu sobrenome), moradora do Jardim Tamoio. Para conseguir se alimentar, ela deixou de pagar aluguel e foi morar na casa de uma conhecida. “Vivo de ajuda para comprar comida, não tenho como pagar, está tudo caro. O preço das coisas está acima do salário.”
Jéssica Moreno sente o impacto no dia a dia. "Está tudo muito caro, principalmente para quem está desempregado. O arroz subiu muito, é algo básico da alimentação." Ela divide a casa com a mãe, a filha e o irmão e relata as dificuldades . "Imagina, faço comida para o almoço, depois tem o jantar e, além disso, meu irmão leva marmita para o trabalho. No fim do mês, pesa muito no orçamento."
A alta dos produtos mais consumidos força as famílias a adaptarem seus hábitos de compra. Paula Biasi, mãe de dois filhos, explica que precisou mudar a forma como consome e organiza as compras. "O café aumentou bastante, e eu não fico sem. Para compensar, tento economizar em outros setores. Nos produtos de limpeza, por exemplo, antes eu comprava vários tipos, agora só pego o essencial: uso água sanitária para tudo e álcool para higienizar. Já os alimentos, tento comprar boa parte na feira e procuro as ofertas de carne no mercado."
Segundo dados do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, janeiro de 2025, o preço da cesta básica na cidade de São Paulo apresentou alta de 1,25% em relação a dezembro de 2024. A cesta da capital paulista foi a mais cara naquele mês, com valor de R$ 851,82. Na comparação com janeiro de 2024, o valor aumentou 7,36%. São Paulo foi a capital onde o conjunto dos alimentos básicos apresentou o maior custo (R$ 851,82).
O economista do DIESSE Gustavo Monteiro analisa o impacto desses aumentos. "Os eventos climáticos extremos estão cada vez mais intensos e comuns, e prejudicam as safras encarecendo os alimentos. O café, por exemplo, ficou mais caro por causa de uma seca no Vietnã, que é um grande produtor." Ele também aponta que "outro fator que nos afetou foi a alta do dólar. As importações ficaram mais caras (por exemplo, do trigo que é muito usado). Ao mesmo tempo, os produtores brasileiros aumentam suas exportações, reduzindo a oferta e elevando os preços internamente. Ainda outro fator foi a economia aquecida."
Gustavo dá alguns conselhos "Como a economia está aquecida e o desemprego baixo, as pessoas tendem a continuar gastando, e os preços tendem a continuar pressionados pela demanda. Mas a inflação ainda está em níveis controlados. As pessoas respondem à inflação adaptando seu consumo. Por exemplo, trocando carne bovina, mais cara, por porco e frango, ou então reduzindo o consumo do café fora de casa."
Ivanilde Costa, que mora com três filhos e uma neta, conta a sua dificuldade: "Está tudo caro e cada dia pior. Está mais fácil comprar um carro do que um saco de arroz." Maria Conceição Sousa, que complementa a renda vendendo geladinhos, também sente o impacto no bolso. "Tudo sobe, é difícil achar arroz por menos de 30 reais, e o café está cada dia mais caro."
Uma moradora de Jundiaí, que preferiu não se identificar conta que "É um sentimento de vergonha não ter o que comer. Compro arroz, feijão e, se sobrar, uma mistura, mas nem sempre sobra porque tem que pagar a conta de luz."
Diante da alta dos preços dos alimentos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sugeriu que a população evite comprar produtos que estejam muito caros, como forma de pressionar a redução dos preços e ajudar a controlar a inflação. "Se todo mundo tivesse a consciência e não comprasse aquilo que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, senão vai estragar. Isso é da sabedoria do ser humano. Esse é um processo educacional que nós vamos ter que fazer com o povo brasileiro", afirmou o presidente em entrevista às rádios Metrópole e Sociedade.