Nos últimos acontecimentos de nosso país, tenho me deparado com uma pergunta crucial: e se não tívêssemos o SUS? No trágico acidente de Ubatuba, em que uma empresária foi retirada do avião em situação gravíssima, o primeiro socorro e a primeira cirurgia foram realizados por um hospital público. Se um de nossos filhos se acidentar ele vai direto ao Hospital São Vicente que, graças a Deus, possui um neurocirurgião na porta de entrada para avaliar as sequelas físicas e neurológicas. Sem falar na importância da saúde pública no combate à covid, dengue e outras doenças tropicais.
Há três anos, eu transferi meu pai de um hospital particular, em que pagávamos um plano master, para ser atendido pelo Hospital São Vicente, onde foi tratado com dignidade. No hospital particular, não fizeram sequer um exame de alta tecnologia para detectar o que ele tinha, ficava na cama, com dor e sem diagnóstico. No único hospital público de nossa cidade, ele foi acolhido com amor. Nós já tínhamos estado aí, quando ele infartou. E esses 40 dias de UTI cardio são outra história de dedicação da equipe médica do Dr. Wagner Ligabó por ele. Eu mesma ficava horas ali, consolando os outros pacientes, ouvindo suas histórias, enquanto meu pai dava apoio às enfermeiras, ouvindo seus dramas pessoais e as aconselhando espiritualmente. Ele era assim, generoso. Nunca se preocupava com seu drama particular, que incluíram diversas safenas e mamárias.
Pois na última vez que ele esteve ali, também fez suas amizades. A tal ponto que, quando fui chamada para a comunicação do óbito, as médicas estavam em prantos. Em vez de elas me consolarem, fui eu quem as consolei, dizendo que eu sabia que tudo o que tinha sido feito, que elas foram ótimas no atendimento, no acolhimento e na prescrição. Deus sabe o que faz.
Outro dia, ao visitar a capela do hospital, onde eu ficava por horas, me deparei com uma cena insólita: um senhor estava tendo alta com uma perda cranial de mais de 50%. Pensei: “isso só é possível aqui”. Sabemos da demanda crescente e reprimida da saúde jundiaiense, mas quem precisa do hospital entende que ali estão os melhores colaboradores, os melhores médicos, gestão e mais de 150 voluntários.
O SUS ainda não é perfeito, mas é universal. Garante acesso à saúde a qualquer brasileiro, uma realidade muito distante para moradores de outros países, como os EUA. Temos aqui os melhores centros de excelência em câncer e doenças infecciosas do mundo, todos do SUS. A USP de Ribeirão Preto tem estado na ponta da cura do câncer, com um método inovador, todos pelo SUS.
Por isso, eu sempre digo que o nosso maior bem é o Hospital São Vicente de Paulo. Seus 122 anos de dedicação à população não foram à toa. Aos vicentinos, serei grata eternamente.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP e Serviços de Saúde pela FMABC. É editora-chefe do Grupo JJ
Comentários
2 Comentários
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Rosemeire Pereira 02/02/2025Eu Rosemeire me comovi com esse depoimento porque já precisamos do hospital São Vicente qdo meu esposo teve um AVC em 2008 e depois de alguns anos caiu do andaime e perdeu uma parte do crânio ,nas duas ocasiões o atendimento no hospital de médicos e enfermeiros foram excelentes eu acompanhando dormi no hospital e precisei das refeições inclusive porque meu esposo não podia ficar sozinho ,foram horas dias e muitas reflexões e histórias de outros pacientes que ali estavam como eu lutando com seus familiares pela vida e a todo o momento assistindo a luta da sobrevivência após um trauma seja ele qual for até assistência com psicológico eu tive no momento que me encontrava tão fragilizada !!! Precisamos do SUS e tenho orgulho do nosso hospital São Vicente de Paulo !!!
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Silvana Aparecida da Rocha 02/02/2025A administração do São Vicente foi fundamental para tirar los do buraco em 2017, e óbvio que nem tudo é perfeito, mas não podemos deixar fazer o que estão fazendo.