OPINIÃO

Festa da Uva, 40ª edição


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Tenho a honra de ser filha desta terra. E ter vivido na área rural até os meus 17 anos, quando me mudei para São Paulo para cursar a faculdade. Vivi no meio de gente que plantava café, milho e uva. Conheci os Benassi acho que não tinha nem dez anos,  e a garra de trabalho, assim como os Marchesin, Tomasetto, Carbonari e tantos outros que viveram e vivem da uva até hoje. 

Pelo segundo ano consecutivo, tenho o prazer de editar a revista da Festa da Uva do Grupo JJ e faço questão de parar minha agenda para buscar no campo as histórias de quem está reescrevendo a tradição agrícola em nossa cidade. São histórias de resiliência, resistência e fé. Nem sempre a terra é dadivosa, mas, mesmo assim, esses italianos perseveram sempre e sempre. 

É verdade que a produção de uva mudou completamente nos últimos anos. Em minha juventude, comíamos uva somente no Natal, nos primeiros cachos que vingavam. Hoje, temos niágara o ano todo graças às novas tecnologias, como o plantio em Y e novas podas. Nossos vinhos, que antes eram de qualidade duvidosa, em garrafões de 5 litros, hoje já ganham projeção nacional, em campeonatos Brasil afora. Aqui, em Jundiaí, também se plantam novas cepas viníferas, como Shiraz, Sauvignon Blanc e outras mais afeitas à produção de uva de qualidade. 

A escassez de mão de obra tem se valido, agora, da tecnologia para permitir que duas pessoas deem conta de 10 mil pés de uva. A exemplo de países, como os EUA e europeus, os jundiaienses têm usado a tecnologia para se manter no campo. E dando crédito ao governo municipal, as políticas agrícolas têm garantido que esse agricultor receba benefícios para permanecer na roça. Lamentável  que o governo estadual também não faça o mesmo e estabeleça uma área de financiamento para equipamentos viníferos e crie, efetivamente, um apoio técnico gratuito aos nossos vinicultores, como faz o Rio Grande do Sul, por exemplo.

Encontro em algumas adegas vinhos de qualidade que não deixam nada a desejar aos chilenos e argentinos, que estão nos supermercados. Na Adega Martins, recomendo a dose de Jurupinga, também ganhadora de prêmio e de uma excelência sem par.

A escala de negócios é cada vez maior graças ao turismo rural. Jundiai recebeu 1,2 milhão de turistas no ano passado, que vieram colher uvas e morangos, beber do nosso vinho, almoçar em nossos restaurantes e se emocionarem ao ver um parreiral intacto - assim como era no tempo de nossas avós. 

Quem está à frente dos negócios rurais tem se valido de criatividade para fazer com que as propriedades passem a ser lucrativas. Piqueniques, colhe e pague, harmonização, degustação, compotas, vinhos e licores são encontrados em todos os lugares para que o turista vivencie sua experiência. Eu sei que não é fácil. Mas o que mais acalentou meu coração foi ouvir da quarta geração que a terra não se vende, apesar da pressão da especulação imobiliária. Sempre ouvi isso dos meus avós italianos. Desta forma, mantém-se a cultura, o amor e o nosso campo preservado. Auguri, Jundiaí!

Ariadne Gattolini é escritora e jornalista, pós-graduada em ESG pela FGV-SP e editora-chefe do Grupo JJ de Comunicação 

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