Ao adentrar o Carmelo São José, no mural, se destaca uma frase de Santo Agostinho: “Desperta, ó homem, por tua causa Deus Se fez homem. Por tua causa, repito, Deus Se fez homem”.
Penso no Natal e na realidade de hoje. O consumismo e a ostentação imperam, como se pudessem dar sentido à história de cada um. Nada ou quase nada se sabe do que passa no coração. Há pessoas, maquiadas pelo sucesso aparente, que desejam morrer ou se suicidam na próxima esquina. Há pessoas que não se importam com a dor do próximo, como a depressão, que sangra nas entranhas, e outras.
Amo a Celebração do Natal de Jesus e me canso com a correria em busca do comprar e ter. Ruas, lojas, praças, shoppings parecem-me de certa forma desvairados. Não se permite um tempo de minutos maiores para prosear com os conhecidos ou clientes. O comum é nos olharmos com pressa. Exceção feita nas vésperas do Natal, em uma livraria, com minhas amigas Gisela Vieira e Iliana Mendonça. Interrompemos nossas compras para nos saudar e conversar um pouco. Houve um indivíduo, conheço de vista, não sei se elas repararam, que nos olhou com estranheza, acredito que pelo motivo de não estarmos afobadas. Em outro lugar no espaço, me disse que admirou nossa calma, mas que em dia de movimento intenso, atrapalha. Dei risada da pobreza de noção dele. Respondi-lhe o que reafirmava nosso inesquecível pai: “A pressa é inimiga da perfeição”. Faltam segundos ou horas para se entrar em sintonia com o Natal de Jesus. Abraçar amigos ou estranhos faz parte do entendimento do Natal de Jesus.
Domingo passado, na primeira parte da Festa de Natal da Pastoral da Mulher/ Magdala, em que o Padre Márcio Felipe de Souza Alves, diretor espiritual do trabalho, refletiu sobre o sentido do acontecimento, comentou que naquela hora a casa se transformava na casa de Isabel, prima de Nossa Senhora, que a recebia para ajudá-la em sua gravidez na velhice e, além disso, com o anúncio de que o Salvador crescia em seu ventre. Essa colocação me tocou. Quero estar de coração aberto para receber Maria, a fim de que ela, em momentos diferentes, aumente minha fé e me faça perceber que o Salvador está comigo.
Na terça-feira, na Missa das sete horas no Carmelo São José, o Padre Félix Xavier da Silveira, destacou que estávamos na sombra e o Senhor clareou nossa história. Pôs em evidência as palavras de Zacarias (pai de São João Batista), citadas no Evangelho de São Lucas (1, 78.79): “Graças à misericordiosa compaixão do nosso Deus, o sol que nasce do alto nos visitará, para iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte e dirigir nossos passos no caminho da paz”.
Em 24 de dezembro passado, o Carmelo São José completou 80 anos. Que sinal forte do que anunciou Zacarias, pois as Monjas, que escolheram em plenitude Jesus Cristo, transbordam a luz que nos trouxe o Menino, quando parece que se apagou o sentido da nossa vida, tanto em suas preces como em suas falas.
Conforme escreveu o Cardeal José Tolentino: “É Ele que pode fazer acontecer, dentro de cada um de nós, esse Natal, essa erupção de vida nova, cintilante, essa possibilidade de uma esperança maior do que aquela que somos capazes”.
O Natal prossegue. Que o Menino encontre, em nossa alma, a manjedoura de Belém.
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)