O cenário midiático brasileiro tem se caracterizado, nos últimos anos, pela crescente exposição de notícias fúteis ou de relevância questionável, que frequentemente ocupam espaço de destaque nos principais veículos de comunicação. Vide o caso exemplar de Jennifer Castro, que não cedeu o seu lugar na janela do avião e ganhou dois milhões de seguidores em dois dias. Aliás, uma atitude louvável, mas que ganhou um destaque inimaginável na mídia por uma atitude tão simples. Corrói meu coração de jornalista as notícias diárias de fulana que tomou banho de chuveiro no Rio com fulano de tal. Gente, em que mundo as pessoas deveriam estar preocupadas com estas baboseiras?
Esse fenômeno, associado à cultura do entretenimento e da superficialidade informativa, desvia a atenção da população de questões essenciais, como as diretrizes de políticas públicas que impactam diretamente a vida dos cidadãos.
A sociedade contemporânea vive sob a influência de um fluxo incessante de informações, potencializado pela internet e pelas redes sociais. Nesse ambiente, a preferência por conteúdos que atraiam cliques e engajamento frequentemente se sobrepõe à preocupação com a qualidade e a relevância das notícias. Assuntos como a vida de celebridades, polêmicas efêmeras e conteúdos anedóticos ganham mais visibilidade do que debates sérios sobre educação, saúde, segurança ou meio ambiente.
Essa dinâmica não apenas reflete uma demanda do público, mas também influencia diretamente a percepção da população sobre as prioridades nacionais. No Brasil, onde desafios estruturais como desigualdade social, deficiências no sistema de saúde e educação precária demandam atenção constante, a prevalência de notícias fúteis é ainda mais preocupante. Enquanto manchetes sobre reality shows ou escândalos passageiros dominam os jornais, pautas como o corte orçamentário para 2025 ou a reforma tributária ficam relegadas a segundo plano.
Aqui em Jundiai mesmo percebo que a onda maniqueísta entre o bem e o mal das últimas eleições já passou. A partir de agora, gostaria mesmo de ver nossa população atenta aos cortes orçamentários que virão, às políticas públicas que serão implementadas ou melhoradas e a participação ativa nas decisões sobre seus bairros, sobre o sistema de saúde e educação.
O desafio é claro: é preciso equilibrar o entretenimento com informações de utilidade pública. E ainda faço uma ressalva em relação à palavra entretenimento, pois é preciso resgatar música, literatura, poesia e dança no dia a dia dos leitores. Esse compromisso não é apenas uma questão de preferência editorial, mas um elemento essencial para a consolidação de um país mais justo, educado e democrático. Enfrentar a banalização é um passo crucial para garantir que as políticas públicas recebam a atenção e o debate que merecem, promovendo soluções efetivas para os problemas que afligem o Brasil.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP e editora-chefe do Grupo JJ
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