Tenho escutado queixas de quem lidera por enfrentar dificuldade para a ascensão profissional e o cumprimento das metas de 50% do ESG em liderança feminina para o Brasil e América Latina.
O caminho mais fácil deste discurso é colocar a culpa nas mulheres e na cultura machista a que estão inseridas. Ou até mesmo pela percepção de que elas não têm dentro de si recursos para liderar ou se achem ineptas e incapazes para a função. Essa descrição é minoritária e devemos, juntas, mostrar a todas mulheres a competência intrínseca de cada uma.
Mas os relatos que colho não são sobre o autodesmerecimento. São de mulheres competentíssimas, eficientes e bem-sucedidas profissionalmente, mas que estão à beira do burnout. Não há no Brasil uma rede de apoio pública ou privada para a mulher que trabalha, muito menos parceiros dispostos a dividir as responsabilidades meio a meio.
E o que acontece então no mercado de trabalho? Ou essas mulheres desistem de ter filhos, casar e ficam voltadas unicamente à profissão ou estão tentando equilibrar os inúmeros papeis. E é nesse equilibrar que elas dizem não às lideranças porque terão mais serviço, responsabilidade e menos tempo para as demais funções.
Liderar não é só uma questão profissional individual. Liderar é saber o papel social desta empresa no suporte feminino. Ela é escutada na tomada de decisão? Como dar apoio à gestação, amamentação, com rede de prestadores de serviços e horário flexível? Vai marcar palestra para uma mãe que amamenta em outro estado? Pague um acompanhante para cuidar de seu bebê. Quer que ela trabalhe tranquila? Crie um coworking com serviço de pajens e professoras. E aqui não estou isentando o Estado de começar a preparar uma nova realidade a estas mulheres com vagas em creche, escolas de qualidade e mobilidade eficiente.
Mas, você poderia me dizer: custa caro, então é melhor contratar só homens. Se vocês são como eu e tentam contratar profissionais já sabem: as mulheres tão dando de lavada nos profissionais masculinos. E, para mantê-las, é preciso mudar toda essa estrutura.
O quadro vai ser pior. A geração Z tem outras prioridades, quer mais experiências e menos bens materiais. Desta forma, estão se isentando de construir patrimônio, de ter uma vida caríssima que lhe custe a saúde física e a sanidade mental. Minha filha de 21 anos tem me ensinado muito. Já no mercado, ela tem certeza de que irá trabalhar dez anos e depois irá empreender. “Quando me tornar mãe, nascerá uma empreendedora porque não vou abrir mão de outras áreas da minha felicidade.”
Não são as mulheres que devem se encaixar. São as empresas que precisam nos fazer mais felizes.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP e editora-chefe do Grupo JJ
Comentários
1 Comentários
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Regina Kalman 21/10/2024A mulher tem que esforçar durante a sua vida como profissional que tem que competir com o mundo masculino. Ao mesmo tempo a sua física tem alguns anos para a maternidade. Poucos anos para ser mãe, precisa de serviços terceirizado para cuidar da educação dos seus filhos. Mesmo assim o crescimento é saúde de seus filhos. Fisicamente e socialmente tem uma função em dobro, na sua responsabilidade como mãe solo. Mesmo com muitas coisas tenham sido atualizadas legalmente, ainda tem uma carga dificultadas, e a sua vida muitas vezes são uma escolha: ou a maternidade responsável ou a vida profissional.