O continente africano tem 54 países, mais a República Árabe Saharaui (ainda não reconhecida oficialmente por muitas nações), que integram a chamada União Africana. Juntos, esses países somam uma área de 30 milhões de km² e abrigam, aproximadamente, um bilhão de habitantes. São nacionalidades diversas, com especificidades culturais, econômicas e políticas que não permitem dizer existir “uma” África, mas sim várias, divididas pelas regiões central, meridional, setentrional, ocidental e oriental.
No entanto, embora seja tão diversificado o senso comum vigente no resto do mundo ainda vê o continente africano como um imenso território economicamente atrasado, ou subdesenvolvido, apenas caracterizado pela exuberância de sua fauna e flora. Imagem explorada à exaustão por livros de aventura e filmes de ação, a maioria produzida pelos Estados Unidos e Europa, mas que nem de longe reflete a realidade desses mais de cinquenta países.
E, apesar da inestimável contribuição dos povos africanos ao Brasil, também aqui em muito a África é para nós um continente desconhecido - mesmo sendo impossível desconsiderar o quanto somos tributários do continente africano na formação da nossa identidade como país.
Mesmo confrontado com a herança de 300 anos de escravidão e cerca de 4,9 milhões de africanos trazidos escravizados para o Brasil, é latente por aqui a reprodução equivocada dos estereótipos e preconceitos a respeito da África.
No entanto, ainda no início deste século com as duas gestões do presidente Lula, o Brasil promoveu um importante e fundamental trabalho de aproximação com o continente africano. Graças a uma diplomacia orientada para o incremento dos intercâmbios no eixo da cooperação Sul – Sul (diferentemente da tradicional cooperação Norte-Sul), brasileiros e africanos aumentaram seus negócios, trocas culturais e acordos políticos.
Não sem razão o Brasil adotou a disciplina ”História da África” em suas bases curriculares, ampliou significativamente seu comércio exterior e as parcerias com os africanos. Cada vez mais a herança africana é destacada por aqui, embora seja ainda um caminho muito longo a percorrer.
E, nesta perspectiva para contribuir com a aproximação entre Brasil e África, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) vai promover na próxima segunda-feira (dia 17/06) um ato solene, juntamente com um seminário, com representantes de vários países africanos. Chamado “Brasil hoje”, sob coordenação de meu gabinete e na função de presidente da comissão de relações internacionais da Alesp, serão abordados os temas: “África atual e seu papel nos desafios globais”, “Educação, arte e cultura: contribuições e realidades” e “Contrastes e problemas voltados às comunidades africanas em São Paulo: propostas de políticas públicas”. O evento contará com manifestações de representantes do Togo, Angola, Nigéria, República Democrática do Congo e Camarões.
É importante registrar que recentemente, no dia 25 de maio, foi celebrado o Dia da África, ou Dia da Libertação Africana, como a data era anteriormente marcada no calendário. O objetivo é comemorar o aniversário de fundação da Organização da Unidade Africana (OUA) em 1963, mas que desde 2002 tornou-se União Africana. A Organização da Unidade Africana foi criada no contexto das lutas das nações africanas para libertarem-se dos países colonialistas da Europa, um movimento iniciado no século XIX e só encerrado na década de 70 do século XX. Aliás, um processo de descolonização muito semelhante ao ocorrido na América, com algumas nações emancipando-se de forma mais pacífica e outras ao custo de muito derramamento de sangue.
Assim, neste amplo panorama de intercâmbios e possibilidades, mas ainda pouco conhecido e explorado, esperamos dar nossa contribuição no estreitamento das relações com um continente fundamental para nossa história e também é estratégico no âmbito de um mundo cada vez mais multipolar, solidário, igualitário e pacífico.
Maurici é deputado estadual (PT - SP)