OPINIÃO

As receitas e a falta de gestão qualificada

Por |
| Tempo de leitura: 3 min

Quem pode, pode. Mas tem muito clube não podendo…

As receitas dos clubes em 2023 (extraído de Sports Value, pelo consultor em finanças do esporte Amir Somoggi), abaixo, mostram: há ótima arrecadação, mas a gestão desse dinheiro (por exemplo: gastar mal) faz com que os times estejam sempre na pindaíba…

Vide quanto "grandão" arrecadando menos que emergente:

1. Flamengo: US$ 280 milhões,

2. Corinthians: US$ 191 milhões,

3. Palmeiras: US$ 185 milhões,

4. São Paulo: US$ 139 milhões,

5. Athletico Paranaense: US$ 104 milhões,

6. Red Bull Bragantino: US$ 100 milhões,

7. Fluminense: US$ 98 milhões,

8. Grêmio: US$ 95 milhões,

9. Atlético Mineiro: US$ 90 milhões,

10. Santos: US$ 87 milhões,

11. Internacional: US$ 86 milhões,

12. Botafogo: US$ 79 milhões,

13. Vasco da Gama: US$ 74 milhões,

14. Fortaleza: US$ 53 milhões,

15. América Mineiro: US$ 38 milhões,

16. Bahia: US$ 36 milhões,

17. Cuiabá: US$ 29 milhões,

18. Ceará: US$ 27 milhões,

19. Coritiba: US$ 20 milhões,

20. Goiás: US$ 20 milhões.

Se convertemos em reais, Flamengo e Corinthians arrecadaram mais de 1 bilhão no último ano (receitas são: patrocínios, arrecadação de prêmios por vitória, direitos de transmissão, comercialização de produtos, bilheterias e venda de jogadores). Entretanto, as despesas podem ou não ser proporcionais: vejam os salários tão altos que são pagos a alguns atletas: Igor Coronado, do Timão, recebe mais de R$ 1,5 mi mensalmente e quase não joga.

Por outro lado, há clubes com contas equilibradas: destaque-se o próprio Flamengo, o Palmeiras e até o Red Bull Bragantino (as despesas estão em dia, não são tão altas quanto aos dos seus co-irmãos, e ganham muito dinheiro com jogadores negociados e marketing).

Aqui, vale a seguinte verdade: não adianta ter competência financeira se não existir competência administrativa, e ela só é obtida através de responsabilidade dos gestores.

O problema passa a ser: se discutimos a existência de craques no futebol brasileiro dentro de campo, precisamos também questionar: existem craques para dirigir administrativamente os clubes? E a resposta é: não!

Por mais que desejemos bons administradores, falta gente gabaritada. Por exemplo: qual Diretor de Futebol de qualquer clube brasileiro pode falar com um treinador sobre esquema tático, característica de jogador e outras nuances, a fim de debater sobre a necessidade de contratação de reforços? Não vejo um! Eles ouvem nomes, oferecem alternativas oferecidas por empresários, mas não tem poder de contestar o técnico pois não tem know-how para isso. Talvez somente Muricy Ramalho e Paulo Autuori, por terem trabalhado nessa função, conseguiriam (mas exercem outros cargos em suas agremiações).

Com a chegada das SAFs, pensou-se que esse cenário mudaria, mas isso não ocorreu; afinal, onde estão esses profissionais? As próprias empresas que assumiram os clubes não conseguem arranjar esse tipo de mão de obra, e para trazer estrangeiros, haveria de mudar a filosofia e a cultura do Brasil, o que não é tão fácil, cá entre nós. Talvez esse caos esteja surtindo efeito contrário: vide o Vasco da Gama, que perdeu a gestão da 777 na Justiça, ou Ronaldo Nazário, que vendeu sua participação do Cruzeiro.

Falta muita coisa para melhorar a gestão do futebol no Brasil...

Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)

Comentários

Comentários