RENOVAÇÃO

Depois de quase privatização, Correios vira 'agência dos futuros'

Novos rumos da estatal em um país diverso e globalizado foram tema de entrevista do presidente Fabiano Silva Santos ao Podcast JJ

Por Mariana Meira | 21/04/2024 | Tempo de leitura: 4 min

JORNAL DE JUNDIAÍ

Nascido em Jundiaí, Fabiano Silva Santos esteve no estúdio do Podcast JJ na última sexta-feira (19)
Nascido em Jundiaí, Fabiano Silva Santos esteve no estúdio do Podcast JJ na última sexta-feira (19)

Há pouco mais de um ano, Fabiano Silva Santos assumia o cargo de presidente dos Correios com uma missão desafiadora: tomar a frente de uma das empresas públicas do Brasil que, por muito pouco, não passou pelo processo de desestatização. Quando iniciou o mandato, no ano passado, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retirou a empresa da lista dos que estavam na mira para passarem por privatização, além de outros nomes como a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev) e Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebras).

As estatais foram remetidas para os programas durante o governo de Jair Bolsonaro, que chegou a levar a proposta a cabo, obtendo inclusive aprovação do Congresso. "Esse desafio realmente foi enorme, e vocês podem ver pela minha barba e cabelo que estão brancos", brinca Fabiano, em entrevista exclusiva no Podcast JJ, do Grupo JJ de Comunicação, na última sexta-feira (19). O episódio irá ao ar na próxima quarta-feira (24).

O presidente relata como foi assumir os Correios em meio a esse cenário, após um processo de desmonte, chegando a passar por um corte de 125 mil para 80 mil funcionários e, entre os colaborares que permaneceram, perda de vários direitos trabalhistas. "Para destruir uma política pública, basta uma canetada, mas para reconstruí-la, é preciso bastante tempo. Ao longo dos últimos anos a empresa foi sendo sucateada porque estavam sendo preparada para ser privatizada. Pegamos uma empresa que não teve investimentos e onde medidas importantes deixaram de ser feitas. Nosso objetivo tem sido dar o protagonismo que os correios precisam", afirma.

Em agosto do ano passado, o Ministério das Comunicações, pasta à qual os Correios são vinculados, anunciou que o Novo PAC iria destinar R$ 856 milhões para a modernização do parque logístico nacional da empresa, tendo como metas adquirir novos sistemas automatizados de triagem e construir centros de serviços postais em locais estratégicos do país. Fabiano acrescenta que, agora, um dos focos é expandir os serviços oferecidos no guarda-chuva da estatal.

"A agência dos Correios vai ter uma outra função em breve, que é o que a gente chama de 'agência dos futuros'. A pessoa hoje pode ir numa agência e comprar um seguro de vida, vai poder comprar um plano de telefone, enfim, vai ter acesso a uma gama de produtos."

Essa é uma resposta a uma mudança de perfil do cliente em um mundo globalizado. Fabiano explica que o setor postal está em "franca decadência" e a área de encomendas segue em expansão, porém sendo altamente competitiva. "Daí a necessidade de trazer novos negócios e pensar em outras parcerias, inclusive da iniciativa privada. A gente tem que ter essa visão empresarial para garantir a estabilidade financeira da empresa", salienta.

SUPERAÇÃO

Nascido em Jundiaí, Fabiano é a primeira pessoa de sua família a conquistar um diploma universitário, sendo hoje advogado, mestre em Direito Político e Econômico e doutorando em Direito, além de Especialista em Gestão Estratégica e de Empresas e também professor universitário. Filho de pai metalúrgico semi-alfabetizado e órfão de mãe com apenas 1 ano de idade, teve uma infância humilde em Cajamar até voltar para cá aos 12, quando passou a se interessar por política. Aos 17, lançou uma candidatura para vereador pelo PT.

"Sempre fui uma pessoa dedicada e sabia que a única saída que eu tinha ali era estudar e tentar cavar as minhas oportunidades. E sempre me interessei por política, por discutir político, por pensar em um ambiente coletivo e saudável para as pessoas", relembra.

Fabiano chegou a trabalhar como assessor na Câmara Municipal de Jundiaí, antes de seguir para a capital, onde atuou na prefeitura durante a gestão de Marta Suplicy (2001-2004), saindo do cargo de estagiário para o topo, como superintendente de uma autarquia.

Concluída a faculdade, o mestrado e o doutorado, ele foi trabalhar na área sindical em Brasília (DF), onde também atuou na Caixa Econômica Federal. Depois, deu início à carreira jurídica e acadêmica, até ser chamado pelo presidente Lula, no ano passado, para assumir os Correios. Hoje, concilia a vida de figura pública e de pai de dois filhos.

A rotina? "Bem corrida, viajo bastante. Fico um pouco em Brasília e um pouco em São Paulo", adianta. Mas garante que vale a pena. "Tenho essa característica na minha vida profissional: quero ser um presidente que vai até o chão de fábrica, não ficar preso em um gabinete. A gente precisa conhecer a realidade, os centros, as equipes locais, precisa estar em contato direto com a sociedade. Pretendo que minha gestão fique marcada por isso, essa proximidade com o nosso público."

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