OPINIÃO

No ventre de Deus

04/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min

O Cardeal José Tolentino de Mendonça, poeta, teólogo português e prefeito do Discatério para a Cultura e a Educação na Cúria Romana, a respeito da Semana Santa escreveu: "É a semana que nos define, é a Semana Maior. Não há cristãos sem a recriação que acontece nesta semana. É a oportunidade de estarmos no ventre de Deus".

A Igreja nos oferece essa oportunidade de nos reconstruir no ventre de Deus, através da Palavra e das Celebrações.

Naquelas que estive, presididas pelo Padre Márcio Felipe de Souza Alves, Pároco e Reitor do Santuário Santa Rita de Cássia, entendi, em suas homilias, que eram para me restaurar diversas colocações dele, do Domingo de Ramos ao da Páscoa. Cito algumas delas.

A importância de caminhar à sombra da Cruz e de me abandonar nas mãos do Pai, que me olha, que me cuida e deseja vencer as desordens do meu coração. Jesus ao dizer: "Tenho sede" e "Tudo está consumado", foi porque se abandonou nas mãos do Pai.

Doloroso demais enxergar em mim as tantas vezes que grito: "Crucifica-O". E isso acontece, como afirmou o Padre Márcio Felipe: "Todas as vezes que deixamos o nosso ego se inflar com as coisas passageira deste mundo (...), quando não somos capazes de nos agacharmos para realizar o mesmo gesto assumido por Jesus: 'Derramou água numa bacia, e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido' (Jo 13, 5). Comentou ainda sobre o perdão e que dar a vida pelos amigos significa quem nem sempre eles estarão ao nosso lado: "Judas o traiu; muitos o abandonaram..." Ele, porém, sempre encontra uma nova possibilidade de salvação.

Destacou que a dor de Nosso Senhor é dor concreta, sentida no corpo, mas sempre com o único desejo: fazer a vontade de Deus.

Chamou-me muito a atenção também a colocação do Padre Jacques de Jesus (1940-1945), no Retiro do Carmelo a partir de suas reflexões: "À medida que nos unimos a Cristo, que Deus vem a nós, Cristo Deus nos fala dos outros: como quereis que sejamos seus amigos e que Ele nos fale de outra coisa, senão das imensas dores dos outros, das multidões?" Do sentir compaixão das multidões.

Os convites do Padre Márcio Felipe nas Celebrações: "Assumir o projeto de Deus, como nosso projeto, (...) o desejo de servir o próximo, sendo doçura do céu, mesmo que muitas vezes estejamos moídos por conta de tantos desafios que a vida nos impõe." Não usar minhas atitudes como grito de 'Crucifica-O'. Refugiar-se no Senhor, disposta a obedecê-lo e dessa forma atravessar as tempestades que aparecem em minha vida. "Encontrar a Jesus em nossas Igrejas domésticas, que tendo deixado o sepulcro vazio, nos convoca para irmos ao Seu encontro, e contemplá-Lo nos que padecem, e desejam ardentemente sair de suas sepulturas. Contemplarmos o Senhor, Jesus de Nazaré, que fatigado pelo peso da Cruz, debaixo da Cruz, erguido na Cruz, feito cadáver na Cruz, não desistiu de nós. (...) Jesus foi pregado na cruz, mas ele não se deixou aprisionar, ressuscitou. Jesus não ressuscitou em frente a testemunhas, mas os discípulos foram compreendendo ao ver os sinais. A morte não venceu, porque Cristo assumiu a morte de cruz".

Estar no ventre do Senhor me possibilita atualizar a minha vida, ressignificá-la e olhar as coisas com mais percepção do Céu.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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