BIODIVERSIDADE

Serra do Japi tem fauna 'exclusiva', exótica e rara

Remanescente de Mata Atlântica no interior de São Paulo, área guarda espécies de grande importância ambiental

Por Mariana Meira | 28/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min
Jornal de Jundiaí

Victor Fávaro

Onça parda, segundo maior felino das Américas, está em risco de extinção devido à expansão urbana
Onça parda, segundo maior felino das Américas, está em risco de extinção devido à expansão urbana

Muito além de sua beleza exuberante e de seus contornos verdes vistos através das janelas de Jundiaí, a Serra do Japi guarda, entre seus 354 quilômetros quadrados de área, um grande celeiro de espécies, entre flora e fauna, que têm um papel fundamental na manutenção da biodiversidade local.

Segundo Victor Fávaro Augusto, biólogo e especialista em manejo e conservação da fauna silvestre, há mamíferos grandes e menos incomuns, como é o caso da imponente onça parda, o segundo maior felino das América e, infelizmente, em risco de extinção. "Seu grau de ameaça encontra-se como vulnerável, e o maior causador é perda do habitat, principalmente associada ao crescimento exagerado das cidades", explica ele, que também se dedica a fotografar animais na Serra.

Também em ameaça, há o sagui-ga-serra-escuro, um pequeno primata endêmico da Mata Atlântica, que ainda pode ser encontrado na Serra do Japi. "Sua perda de habitat é agravada pela disputa de território com espécies exóticas que já existem na região", diz o biólogo.

A Serra também é "casa" para as abelhas, que, longe de ser clichê, são literalmente um dos principais responsáveis pela sobrevivência humana no planeta. Há ainda as aranhas, que, por mais assustadoras que possam ser para algumas pessoas, têm sua importância ambiental, principalmente no controle de insetos. "Temos muitas espécies na Serra, algumas que provavelmente as pessoas nem percebem", explica Victor, exemplificando uma espécie do gênero Leucauge, uma pequena aranha de teia que vive no Brasil e, mesmo despercebida, contribui para o bioma comendo insetos diariamente.

Igualmente terríveis para muita gente, as serpentes também figuram entre os répteis que mantêm o funcionamento da fauna local. A jararaca, por exemplo, é um animal peçonhento que pode matar com seu veneno, mas somente se quiser se defender - sem situação de estresse, a cobra possui grande relevância para a medicina, uma vez que, conforme explica o especialista, estudos demonstraram que sua toxina ajuda na criação de um importante medicamento para controle da pressão arterial. "E não para por aí, estamos estudando muito a peçonha desse animal para tratamento de muitas outras doenças, incluindo alguns tipos de câncer."

É HORA DE CUIDAR

Entre suas muitas pesquisas na área da biologia, Victor tem como principal grupo os anfíbios, o que o torna um herpetólogo, estudando espécies não só da Serra como do Brasil inteiro. A escolha não é aleatória: tratam-se de animais extremamente ameaçados de extinção. "São os mais ameaçadas da atualidade, não só pela perda de habitat como pelo aquecimento global e por uma doença que vem dizimando espécies no mundo todo", explica.

Exemplos que podem ser encontrados na Serra são o pingo-de-ouro, do tamanho de uma moeda de 50 centavos e com cores fortes para alertar predadores sobre seu veneno, e a rãzinha-de-corredeira, que, pelo fato de viver somente na Serra do Japi, por depender da água proveniente das nascentes que ocorrem ali, ganha o nome científico de Hylodes Japi e é um importante indicador de qualidade ambiental.

A lista de preciosidades da Serra se estende ainda por animais como borboletas - são conhecidas mais de 800 espécies, das mais comuns às mais raras, das mais coloridas às menos chamativas e das maiores às minúsculas - e aves - só na Serra são mais de 350, entre elas as corujas, que contribuem para o controle de roedores.

Para o biólogo, para que toda essa riqueza seja preservada, é preciso compreender o que ela representa, enquanto parte de uma reserva biológica que já passa de quatro décadas de tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e, enquanto área remanescente da Mata Atlântica, é protegida por lei municipal para garantir a não exploração imobiliária do entorno. "O maior desafio que temos é seu tamanho, localização e pressão antrópica de diferentes formas. Cada dia mais os animais e plantas estão sumindo sem que quase ninguém perceba, e pode ser que isso chegue a um nível sem precedentes", alerta.

Segundo ele, quanto maior o acesso à informação, maior será o impacto positivo sobre a Serra.

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