OPINIÃO

Recuperar nascentes

15/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Missão para todos os cidadãos brasileiros é fazer com que o Poder Público local enfrente a questão das nascentes perdidas. O ambientalismo é relativamente novo em país sem tradição ecológica. No afã de entregar mais imóveis à urbanização, as municipalidades vão acabando com a zona rural e sepultando cursos d'água, riachos e córregos. Quando não, a volúpia do asfalto e o culto permanente aos automotores, que funcionam a expelir gases causadores do efeito-estufa, promovem a irracional canalização dos leitos naturais, a perniciosa retificação e até mesmo a substituição do que o ambiente ofereceu gratuitamente, por vias destinadas aos automóveis.

Essa é uma das concausas dos eventos extremos que ocorrem e que vão se intensificar daqui para diante, para lembrar à criatura que se diz racional, que se não se considerar parte da natureza, esta continuará a ignorá-la e procederá da forma como vem acontecendo. Secas prolongadas, chuvas torrenciais, deslizamentos, inundações, perda de colheitas, de residências e de vidas.

Todas as cidades dependem de seus recursos hídricos. Reflorestar é compromisso salvífico, ou seja: o futuro da vida no planeta depende de sanar sua grave enfermidade. Isso é muito fácil para grandes municípios, com orçamentos que comportam a contratação de pessoal que deve ser treinado para essa tarefa. Menos burocracia, pois a Inteligência Artificial e a automação substituem atividades de automatismo e mais coletores de sementes, jardineiros, formadores de viveiros de mudas, plantadores de árvores nativas e recuperadores de nascentes.

Há projetos interessantes perto de nós. Por exemplo, o chamado "Rio Jaguari", em Jaguariúna, cujo nome deriva exatamente desse curso d'água. Ali se desenvolve uma prática saudável de adaptação ambiental das propriedades rurais, mediante investimentos em infraestrutura verde.

A conscientização dos proprietários rurais é fundamental. Educação ecológica está prevista na Constituição, deve ser formal e informal, abranger todas as idades e tornar ecologicamente consciente quem, não raro, é um detrator da natureza.

Jundiaí é cidade privilegiada, pois tem APP - Áreas de Preservação Permanente, definidas na legislação. Além disso, possui a Serra do Japi, um patrimônio de imenso valor, que deve ser preservado e não ameaçado pela indiscriminada ocupação de seu entorno.

Muitas chagas abertas na Serra e na Zona Rural devem servir para compensação ambiental. É urgente a formação de um banco de áreas com o objetivo de motivar aqueles que precisam compensar o excesso de emissão com a preservação de sumidouros de carbono.

Com o georreferenciamento, é possível identificar onde remanescem nascentes e onde já desapareceram aquelas que existiam, mas que devem ser recuperadas. Em Jaguariuna a iniciativa deu certo, tanto que á se adicionou outra área, agora da Bacia Hidrográfica do Rio Camanducaia.

Levar a sério uma política de recuperação de nascentes faz bem para a natureza, faz bem para a economia, faz bem para a paisagem. Não se pode ignorar o potencial turístico de áreas rurais, tão bem explorado em outros países, onde a população, espontaneamente, embeleza suas propriedades, cuidam de seus jardins, não fazem construções esteticamente deploráveis e arrecadam, com isso, uma renda adicional que garante sustento e conforto.

Jaguariuna ganhou o 8º Prêmio Ação pela Água, promovido pelo Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e motivou a participação de empresas interessadas em devolver à natureza o que dela se vem extraindo de maneira equivocada e apta a gerar os mais nefastos efeitos.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e autor de "Ética Ambiental", um roteiro de educação ecológica (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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