OPINIÃO

Bruninho da Koka

11/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Bruno Roberto Nogueira de Barros, o Bruninho, filho único da Eliane Barros Nogueira, conhecida como Koka.

São tantos sentimentos misturados... Um misto de dor pela partida dele aos 20 anos, vítima de um acidente de moto em primeiro de janeiro. Gratidão a Deus por tê-lo conhecido. O sofrimento que imagino da mãe... Inúmeras lembranças dele desde os dois anos, quando foram vizinhos da Casa da Fonte que acabava de começar por iniciativa da Companhia Saneamento de Jundiaí.

Durante três anos e meio ficamos em um salão alugado, com algumas atividades e escutando quem vinha para saber dos anseios da comunidade. Ele chegava pela porta do fundo, que dava no quintal, ainda de fralda, em busca de papel e lápis colorido, livros para folhear, brinquedos... Tínhamos outros pequeninos também, mas com um ou dois anos a mais que ele. Impossível não amar os miúdos e os crescidos!

O Bruninho era da doçura e do sorriso. A Koka me despertou admiração e aplausos. Mulher forte, em pé diante das intempéries da vida, da sensibilidade, de sonhos e inteira da proteção de seu menino. Ao me aproximar dela, ao lado do caixão, m disse: "Nosso menino, não é Cris?" Emocionada, na hora não consegui responder: "Sim, querida, nosso menino".

Ele seguiu com a Casa da Fonte até os 15 anos, fazendo cursos diversos, Depois, além da escola regular, dedicou-se ao estudo de música com membros da Igreja em que ele e sua mãe professavam a sua fé: a Congregação Cristã no Brasil. Atualmente, participava do grupo de jovens. Centenas de pessoas de sua Igreja no velório, além de outros amigos. Muitos acompanhando o percurso para o sepultamento com violões e cantando, dentre outros versos: "Posso dizer: Ninguém é mais feliz que nós/ Foi um prazer cantar ouvindo a sua voz/ Quem cantar como cantamos vai sentir o que sentimos/ E, por isso, estamos juntos mesmo estando em outro lugar. (...) O que Deus plantou em nós/ O mundo não pode entender". E ainda: "Eu sou forte pela fé que eu carrego/ Eu sou como um navio em meio ao mar/ Navegando na esperança de ancorar/ Sigo para o alvo: a minha vida eterna". Como a fé faz a diferença na vida das pessoas.

Embora com contatos menos frequentes, jamais nos perdemos de vista. No final de ano, foi nos visitar na Casa da Fonte e sua determinação, ternura e olhos com brilho fizeram-me um bem imenso. Não imaginava que seria despedida.

No velório estavam inúmeros jovens que, na infância e adolescência, estiveram na Casa da Fonte. Vinham chorando em minha direção. Difícil ainda, pela tenra idade, constatarem, como escreveu Cecília Meireles: "A vida é um instante emprestado". Só tinha a lhes oferecer o ombro, com a alma em prantos.

Não creio que o acidente foi da vontade de Deus. Aconteceu. Quantas vezes, na direção, vemos em cima da hora que uma moto se aproxima. O Senhor, no entanto, vem ao encontro de seus filhos para fazer o melhor e o melhor foi, por certo, pela vivência de fé do Bruninho, levá-Lo com Ele. E para a Koka buscar, em todas as horas, a face do Altíssimo.

Dizia sempre que cuidaria de sua mãe até os últimos dias dela. Sem dúvida, não quebrou a promessa. Fala com Deus para assoprar o coração da mãe que fez dele um homem de verdade, assumindo sua dignidade de filho de Deus.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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